Regra Número 27:

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🟦̶ N̶ã̶o̶ Saia Com Ele

Olhava através da janela, percebia a cidade em seu ânimo preguiçoso de sábado a tarde passar com suas diversas cores: céu azul, límpido, árvores carregando suas últimas pétalas de flores iluminadas pela luz do sol. Tudo aparentava estar mais vívido, como um cenário que você se acostumou a vislumbrar em preto e branco, mas que inesperadamente, a cor tomava seu lugar nele.

Podia perceber cada parte de mim se sensibilizar com os detalhes, era uma alegria genuína, daquelas que se sente apenas em momentos especiais e simples, como se houvesse harmonia espalhada pela brisa leve.

Paramos no semáforo e abandonei a paisagem da janela para ver ele que em nada se afastava da beleza que eu enxergava nos detalhes da cidade. Cada linha de luz se acomodava em um trecho seu, como se escolhesse onde repousar. Outrora eram os olhos, mergulhando em seu castanho, depois a boca, beijando-a e deixando a marquinha que já havia ali mais evidente. No entanto, a maioria dos raios de sol pareciam ter escolhido se acomodar no emaranhado sobre sua cabeça, apalpando cada cachinho teimoso, tomando-os para si como se possuísse o pretexto de me causar inveja. Mas os traços de luz mal sabiam que aquele moço já era meu. Pelo menos, era nisso que eu queria acreditar enquanto estava ali com ele.

A luz verde se acendeu no semáforo a frente e saímos. Não havia muitos carros pelo centro da cidade, um ou outro passava por nós lentamente, sem pressa, assim como nós também estávamos, se pudéssemos parar as horas, o faríamos. Subimos a ponte. O rio tão azul quanto o céu corria abaixo de nós e isso me fazia pensar em como seria ser livre para fluir leve por aí. Talvez eu fosse livre naquele momento e nem soubesse.

Depois de nosso encontro na noite do nascimento de meu irmão, as coisas tinham mudado um pouco, acabamos nos aproximando mais, passamos a trocar mensagens cotidianamente e quando não havia mais o que ser dito, ainda assim parecia que queríamos estar conversando, então, trocavamos memes bobos.

Se estava sendo ingênua ou não, bom, eu não poderia saber, mas a verdade é que passava a entender as questões dele e, assim, aceitava estar a sua espera. Crescia entre nós algo que transpassava o que era sentido inicialmente, se erguia cada vez mais cumplicidade. Estávamos mais amigos e isso era tudo que poderíamos ter naquele momento. Aguardavamos nosso tempo.
As vezes na escola, durante os intervalos, ele se juntava a mim, Mateus e Rafaela para conversar. O assunto principal eram sempre as gorgónas e demais coisas da mitologia grega que eu não entendia muito bem, mas que ele e Mateus enchiam o peito para ensinar.

Benjamim desceu pela rampa, deixando a ponte e nossa cidade para trás, seguimos pela avenida que beirava a orla, o rio ainda seguindo seu curso livremente lá embaixo.
Não, aquilo não era um encontro, não poderia ser. Era um passeio entre dois amigos que só queriam relaxar no fim de semana, não havia o que temer, eu era a amiga do professor e só.

Ele estacionou o carro e descemos. Eu não conhecia muito bem aquela cidade, embora tenha vivido minha vida toda ao seu lado, poucas vezes tinha atravessado a ponte e percorrido suas ruas.

Benjamin então me guiou pelo estacionamento, seguimos conversando por uma calçada estreita em direção a orla.
Estávamos na cidade vizinha porque a probabilidade de sermos vistos justos diminuía bastante, embora não fosse nula, mas de qualquer modo, não haveria beijos, abraços, carinhos, só queríamos estar próximos um do outro, curtindo a compainha, caminhando junto.

Fomos para a passarela, acho que era feita de algum tipo de metal e rangia conforme caminhavamos sobre ela. Conforme nos aproximavamos de sua extremidade onde ela se expandia ligeiramente erguendo-se sobre o rio, a brisa ficava mais forte. Olhava para baixo, para a água que corria e sentia um frio na barriga por causa da altura. Porém, Benjamin parecia tranquilo e impertubável enquanto encarava o balanço das águas.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora