🟦 ̶N̶ã̶o̶ Guarde Esperanças
O dia tinha amanhecido quente, meus cabelos grudavam as têmporas e o vento não soprava contra a janela. Sentei na borda da cama e toquei o piso frio com meus pés descalços, os pelos de meus braços se arrepiaram.
Respirei profundamente me preparando para encarar o primeiro dia de aulas após o recesso, desejei bom dia para a capivarinha sobre a mesa de cabeceira e caminhei preguiçosamente até o banheiro, pois os dias de folga tinham me arrancado do ritmo proativo.
Peguei a escova de banho e mudei o botão do chuveiro para "natural", sempre fazia isso quando precisava sentir a água gelada escorrer por meu corpo para acordar complementamente.
Naquela manhã fui para a escola de bicicleta já pensando no retorno que seria sob o sol de 40° - é um eufemismo - de Petrolina. Se eu fosse retornar andando chegaria igual um pimentão em casa, além de ficar cheia de brotoejas que salpicavam meu pescoço.
Pedalar até a escola tornava o caminho bastante breve, mas isso não me impedia de pensar no que queria dizer a Benjamin naquela manhã. Estava decidida, tinha passado a semana anterior inteira pensando e repensando que diria o quanto gostava dele e, com isso, precisava também entender o que ele sentia por mim.
Tranquei a bicicleta no pátio da escola onde ficavam também todas as outras de meus colegas e caminhei ensaiando mentalmente o que diria e como faria para falar com o professor. Uma voz lá no fundo de minha cabeça, talvez fosse a razão, dizia fracamente pra eu desistir daquilo, daquele absurdo que era estar me envolvendo com um professor. Mas quem disse que eu escutava?! O toque de Benjamin, seu beijo, seu cheiro, seus modos... Tudo nele superava a voz racional chata que ecoava longe em meus pensamentos.
Minha vida era certa demais, organizada demais, precisava sair daquele ritmo um pouco, sentia essa necessidade arder dentro de mim. Fui uma boa filha e aluna, agora precisava ser o que eu julgava ser bom para mim. - me convencia, em pensamentos.
- Olha ela! - Gritou a voz do outro lado do pátio, sob uma árvore. Era David-de-Pérola, como ela gostava dele, acabei colocando esse apelido bobo.
Apenas acenei para ele e segui pelo corredor para a minha sala, coloquei a mochila na cadeira, dei meia volta e sai em busca de Elga para saber como continuaria a Oficina de Redação. Bom, me convencia de que era por isso que eu perambulava pela escola em direção a sala dos professores, mas na verdade, só queria um pretexto para topar com Benjamin.
Adentrei a sala e me decepcionei ao encontrá-la sem o professor de história. Elga, por outro lado, estava lá e acenou sorridente para que me sentasse ao seu lado.
Me sentia uma estrangeira ali, porém, se a professora de português queria que eu estivesse, bom, teria que ficar. Já tinha percebido por conta de outras vezes que tinha estado ali o silêncio que se estabelecia diante de minha presença e, enquanto aguardava Elga, devaneava se a pauta principal entre eles era falar mal dos alunos que, infelizmente, precisava ser interrompida por minha presença.
Afastando o pensamento para longe me atentando as explicações de Elga sobre a oficina e, depois, sobre meu próprio desenvolvimento em redação. Os dois últimos textos dissertativos argumentativos que tinha feito antes das férias me renderam incrivelmente duas notas 1000! Aquele resultado ajudava a me convencer de que conseguiria entrar para uma universidade.
A cada mês que se passava, o medo de não conseguir se tornava maior, mas tentava me apegar as coisas boas que tinha conseguido até ali, como essas duas notas. No início daquele ano, quando fui transferida para o Otacílio tudo que pensava era que se eu não conseguisse passar no vestibular culparia meus pais por terem me trocado de escola.
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomanceQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...