🟦 ̶N̶ã̶o̶ Se Distraía Por Causa Dele
Um grupo de alunos passou barulhentos pelo corredor, a professora de biologia abriu a porta e deu um belo esporro naquele pessoal sem educação. Todos dentro da sala contiveram seus risinhos por escutar a repreensão da professora.
Ela voltou sem dizer uma palavra do ocorrido, apenas retomou o conteúdo como se nada tivesse acontecido, de certa forma, agradeci por isso, pelo menos assim não perdíamos tanto o foco.
Estava sentada na primeira fileira e anotava tudo com uma rapidez que provavelmente causaria inveja em quem olhasse, mas mal sabiam que tudo aquilo era para tentar recuperar uma nota ridiculamente baixa.
Rafaela estava ao lado, normalmente, nós sentavamos juntas e naquela manhã não tinha sido diferente. Mateus, por outro lado, era um nômade, sentava em qualquer canto da sala a depender de seu estado de espírito. Era segunda-feira e isso fazia com ele estivesse preguiçoso, nesses dias, ele se refugiava no canto direito do fundo da sala, onde os dorminhocos ficavam.
Os professores não ligavam para os dorminhocos, costumavam dizer que independente disso o salário deles ainda cairia na conta no início do mês, então davam aula para quem queria assistir.
A professora explicava sobre botânica e todos aqueles nomes que eu conhecia, mas que me confundia toda ao tentar classifica-los. Só conseguia lembrar das angiospermas porque tinha conseguido criar uma relação: angiospermas lembram anjo, porque elas dão fruto e frutas são boas. Fazia sentido? Agora estou rindo me questionando se sim, mas funcionou e me salvou na prova da terceira unidade.
A sensação sobre aquela semana em específico era de que estava passando rápida demais. Bom, até chegar quarta-feira e parecer que os ponteiros do relógio tinham congelado, tudo se tornou lento, ou talvez, minhas lembranças tornem-se lentas ao reviver esses dias.
Como de costume, quando chegava o meio da semana, sentavamos os três na primeira fileira de cadeiras da sala de aula: Rafaela, Mateus e eu. Ele gostava de ficar no meio porque assim conseguia perturbar nós duas com maior facilidade e fazia isso durante toda a manhã. Eu gostava, confesso, mas ficava difícil me concentrar nas aulas e me perdia em meio as explicações muito facilmente.
O meio da semana também era quando tínhamos aula de Benjamin, nos últimos horários, para ser mais específica. Poderia dizer que tudo bem, eu sabia separar meu interesse por Benjamin do papel dele ali, de pé na frente da turma revirando a história do mundo. Porém, isso não seria verdade. O que de fato acontecia era que eu tentava, mas tentava mesmo, fazer tudo isso aí que acabei de dizer, buscava separar as coisas, mas não acabava dando muito certo, pois quando ele fixava os olhos em mim durante a explicação, instintivamente eu abaixava a cabeça tentando conter o sorriso, ou me arrumava na cadeira mais do que o habitual, para sempre estar com uma postura descente, ou ainda, demorava mais um pouco em casa, me arrumando para ir a escola.
Era detalhes, eu entendo isso, mas já era algo diferente que não deveria acontecer, que me tirava do eixo. As vezes me perdia no conteúdo explicado lembrando de coisas sobre nós, de um meme que ele me enviou dias atrás e, agora, do banho inesperado de rio.
Benjamin estava de costas para a classe, tinha acabado de entrar na sala e mexia em sua bolsa carteiro tirando alguns materiais de dentro dela. Rafaela e Mateus coxichavam ao meu lado e me aproximei para não perder a fofoca da vez, porque sim, eles adoravam falar as curiosidades sobre o pessoal da nossa sala e, não vou ser hipócrita, eu participava.
- Quer apostar quanto? - Questionou Mateus em um tom cheio de malícia.
Rafaela balançou a cabeça sorrindo e disse que ele não teria coragem.- Quer ver? - Ameaçou Mateus.
Olhei para aquilo com curiosidade, Mateus era audacioso demais e duvidar da capacidade dele fazer algo inesperado, que causasse vergonha, ou fosse desastroso não fazia sentido para mim, porque ele não média distância, ele fazia.
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomanceQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...