Regra Número 24:

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🟦̶N̶ã̶o̶ Saia Por aí Sozinha

Me sentia sozinha e culpada, meu coração estava apertado de um modo que nunca havia sentido. Se eu achava que estava desmoronando antes, imagina agora?! Parecia que eu era uma pilha de cubos de montar e que alguém tinha batido em mim bem forte. Estava destruída.

Sentei na calçada, porque a visão embaçada me impedia de continuar caminhando. Olhei para trás e vi as grades de uma concessionária já fechada e escura por conta do horário, na verdade, não fazia ideia de que horas eram, mas tudo indicava ser tarde.

Encostei minhas costas na grade e, olhando ao redor para me certificar de que estava sozinha, deixei que meu choro vinhesse alto, como uma tempestade que tinha seu ápice em meu coração e subia transbordando através dos meus olhos.

Eu era realmente uma incompetente, um peso nas vidas de meus pais, tinha estragado tudo com hipóteses falhas e burras... Tudo estava sob meu nariz e eu não consegui ver. Me sentia ridícula, uma massa alaranjada e manipulável, porque estava crente de que... De que minha mãe era a vítima da história toda e, vejam só, não era.

Levei minhas mãos ao rosto e chorei em minhas palmas, percebendo pela primeira vez em minha vida que a pessoa que mais estava ali por mim e comigo, era eu mesma.
Eles tinham ocultado, ninguém quis saber das minhas perguntas, ninguém quis me ouvir verdadeiramente, só continuaram me prendendo no maldito emaranhado de omissões deles.

Me envolvi com meus braços, em um auto abraço de misericórdia, queria dizer para mim que tudo se arranjaria, que futuramente tudo iria se encaixar, que coisas assim acontecem, que família é, ao mesmo tempo, nossa salvação e nosso afogamento. Mas nada tão cheio de compaixão conseguia ultrapassar a barreira densa e nebulosa das percepções falhas, da culpa, das tolices.

Me soltei do meu próprio enlaço e continuei caminhando, cada passo parecia pesado demais para ser dado, mas insistia mesmo assim, atravessaria a cidade se fosse preciso para colocar as ideias no lugar, chegaria a beira do rio e talvez me jogasse lá para, através do mergulho, limpar as impurezas que me tornavam aquela pessoa da qual não conseguia me orgulhar.

Meu celular começou a tocar no bolso de trás do short jeans, era meu pai, talvez estivesse arrependido das acusações ou... Ou estava ainda mais bravo, porque as notícias não teriam sido boas.

— Não, não, não... — Murmurei afastando a ideia negativa de meus pensamentos.

Coloquei o telefone no modo silencioso e o guardei novamente, não estava preparada para nenhuma das duas opções, precisava pensar, organizar, eu gostava de organização, então por que não podia tê-la em minha mente?!

A rua que se apresentava para mim estava quase deserta, uma vez ou outra passava algum carro, mas de pedestre por ali, só tinha eu. E que bom, não queria topar com ninguém que percebesse meu choro, meu desânimo e frustração, era bom estar só, queria me manter sozinha.

Aquela rua se exibia longa para mim, nem conseguia notar seu fim, embora soubesse que em algum momento eu o encontraria. Apesar de deserta, alguns níveis acima ficava a Avenida Honorato Viana onde o trânsito de automóveis era incessante, era possível acompanhar o movimento nela enquanto seguia por meu trajeto tranquilo. A rua acompanhava a avenida e vice-versa.

Ainda não sabia para onde iria, na verdade, só queria realmente caminhar como se a cada passo uma coisa se encaixasse melhor em mim, então fui seguindo, ora chorando, ora engolindo o bolo na garganta e, conforme me afastava do hospital sentia que as palavras de meu pai contra mim iam caindo pelo caminho, despencando de mim e ficando pela rua como objetos perdidos.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora