Regra Número 28:

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🟦 ̶N̶ã̶o̶ Deseje as Metáforas Dele

Deitei na cama e apertei meu rosto contra o travesseiro tentando conter meu sorriso. Queria dançar, pular, saltitar, estava em completo frenesi, pois tinha acabado de viver um dos melhores sábados da minha vida.

Peguei meu celular e comecei a digitar uma mensagem fofa agradecendo a Benjamin pelo passeio, mas depois de escrever tudo, apaguei achando que era grudento demais já que tínhamos nos visto a pouco.
Coloquei Equalize, música da minha cantora favorita, e fui tomar um banho enquanto cantava a plenos pulmões:

"Adoro essa sua cara de sono e o timbre da sua voz que fica me dizendo coisas tão malucas"

Era uma sensação maravilhosa que tomava conta de mim e eu não sentia medo de deixar de ser metódica ou organizada, estava afim de viver o inesperado, o acaso.
Se fosse alguns meses atrás um pensamento desse tipo me deixaria assustada, mas naquela noite de sábado a emoção era tão grande e bem instaurada que a coragem brotava há um ponto de me tirar de mim mesma, ou melhor, da zona de conforto na qual havia me enfiado.

Enrolada na toalha, cai na cama com um sorriso bobo encarando o teto branco, feliz da vida e a espera do momento em que poderíamos ficar, de fato, juntos.

Sai sorrateiramente para a cozinha para comer algo, não queria topar com minha mãe, por isso fazia tudo com muita precisão, sem causar barulho.

Voltei para o quarto e fechei a porta, na verdade, naqueles dias eu tinha passado a tranca-la, coisa que nunca tinha feito, mas que naqueles dias precisava fazer em respeito a mim mesma, meu espaço e meus sentimentos que apertavam o peito ao lembrar da mentira, ao lembrar do cinismo de minha mãe ao me ver definhar sem entender o que estava acontecendo e, ora, ela era quem mais sabia de tudo.

Abri Dom Casmurro e retomei minha leitura em um ritmo intercalado com as mordidas no sanduíche que havia preparado. Capitu não me parecia confiável, quanto mais lia sobre ela, menos gostava, parecia o tipo perfeito que faria o Bentinho sofrer. Seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada entregavam tudo, só não percebia quem não queria, assim como eu caí no papo da minha mãe.

Enquanto pensava sobre isso, ela girou a maçaneta para entrar em meu quarto, mas se deparou com a tranca que segurou a porta presa ao batente.

- Por que você anda trancando essa porta?

- Privacidade. - Respondi secamente.

- Mas eu sou sua mãe, queria conversar com você.

- E daí? - Devolvi - Conversar o que? - Perguntei desperta pela curiosidade.

- ah, nada demais... Sobre o trabalho, essas coisas...

- Depois, estou estudando agora. - menti.

Tirei meus fones da gaveta e pluguei no celular, retomando minha leitura com minha cantora preferida cantando aos meus ouvidos.

Mas essa pose de adolescente rebelde não durou muito, lembro de logo estar debruçada sobre a janela, chorando enquanto os fones ainda cuspiram a mesma música, enquanto Dom Casmurro aguardava sobre a cama pela próxima vez em que seria aberto.

Eu não queria agir como estava agindo, mas ao mesmo tempo não sabia como me portar, então me mantinha naquele espectro seco, frio, aparentemente insensível.

Mas a verdade era que eu sentia e sentia muito, mas não sabia lidar com nada daquilo ou, pelo menos, não queria fazer isso. Precisava de alguns dias para tentar me recompor, para que o choque da descoberta fizesse efeito e, enfim, eu estivesse pronta para olhar nos olhos da minha mãe, contar que eu sabia e aguardar pela explicação mascarada que viria em seguida. Eu não queria máscaras, queria que ela fosse sincera comigo e me contasse porque tinha escolhido aquele caminho.

O choro veio e se foi. Me aninhei aos lençóis desejando que Benjamin estivesse ali comigo, me abraçando, dizendo aquelas metáforas para tentar me acalmar e convencer de que as coisas se encaixariam, que tudo ficaria bem... Outra vez.
Abri nossa conversa e fiquei observando o ponteiro piscar na barra onde se digita a mensagem. Queria falar com ele, mas o que diria?!

Então sai rapidamente da conversa quando foi mostrado que ele digitava.

"Boa noite, Apenas Alice! Hoje foi muito bom, sua compainha me faz um bem danado...dorme bem, tá?! tenha bons sonhos e até amanhã. ❤️"

Instantaneamente um sorriso tomou minha face. Bloqueei a tela e abracei o smartphone como se fosse meu professor ali. Sim, eu me sentia meio tola, mas e daí? Era bom.

Respondi a mensagem e dormi logo em seguida, daquela forma que a gente nem percebe que dormiu, sendo tomada pelo mundo emaranhado e desconexo dos sonhos.

Na manhã seguinte o sol pareceu beijar-me, antes de, sequer abrir meus olhos sentia a luz morna tocar minha face. Encarei as cortinas na janela me questionando se ontem tinha sido real, se eu realmente tinha saído com Benjamin, conversado e tomado banho de rio com ele ou se tudo não teria passado de um sonho.

Enfiei minha mão por debaixo do travesseiro, deslizando pelos tecidos até encontrar meu celular.

Entrei na conversa com Benjamin e lá estava "Bom dia, Apenas Alice! Espero que seu dia seja tão lindo quanto você! "
Em seguida, chegou: "meio brega, né? Mas é verdade 😘".

Me belisquei de leve para verificar se tinha acordado de fato e, sim, estava completamente desperta. Embora o que quer que estivesse acontecendo parecesse meio estranho e até inacreditável, era real.

Bom, quem eu estava me tornando?

Talvez, mas só talvez, aquela já fosse eu há muito tempo, eu só não tinha me dado a chance de me conhecer melhor e, agora, deixava que fluísse meu lado impulsivo.

☑️

4. Canção Equalize de Pitty.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora