Regra Número 30:

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🟦  ̶N̶ã̶o̶  Se Envolva com o Professor

Como de costume, cheguei antes dos outros alunos para a oficina de redação, antes mesmo da própria Elga. Encontrei uma sala de aula vazia, organizei as cadeiras e revisei o material que eu tinha elaborado para a aula daquele dia, era um conjunto de citações e alusões que poderiam ser utilizadas para demonstrar repertório na redação.

Não demorou muito e a professora chegou, com o seu jeitinho desajeitado de sempre, pediu o conteúdo que eu tinha produzido, fez uma revisão rápida e me devolveu elogiando o material.

Com a aprovação da professora, fui a sala dos professores para tirar cópias e poder distribuir. Enquanto a copiadora fazia seu trabalho de maneira lenta e preguiçosa, me inclinei para a estante dos professores e peguei o livro que estava na parte com o nome de Benjamin.

Nem precisei abrir para perceber que nele não havia nada de interessante, a não ser o fato de pertencer ao meu professor. Era um livro de história do terceiro ano, folheei um pouco, vi as respostas das atividades todas já impressas nas páginas na cor azul que as diferenciava das perguntas.

O cheiro de Benjamin invadiu minhas narinas, de modo que girei nos calcanhares pensando que ele poderia ter entrado no ambiente, mas logo me dei conta de que o cheiro emana do livro. Fiz o mesmo movimento com as páginas, passando elas rapidamente e perto de meu rosto. Fechei os olhos enquanto fazia isso, imaginando que Benjamin estaria ali, bem diante de mim.
A copiadora parou com seu barulho de máquina que mais parecia um lamento cansado.

De volta a sala da ofina, percebi que a pequena turma já tinha chegado ou, pelo menos, parte dela, pois Mateus não estava, mas sua ausência não era de se causar estranheza, as vezes ele se atrasava mesmo, as vezes nem aparecia.

Enquanto Elga dedicava seu tempo a corrigir redação por redação, eu auxiliava os demais dando as dicas que recolhi e lhe entregando o material elaborado.
Tendo concluído minha parte, peguei uma folha de redação que havia sobrado para começar a produzir minha própria redação. As vezes conseguia concluir a tempo de Elga corrigir ainda naquele dia, mas era mais comum ficar para o dia seguinte, ou para a próxima oficina.

O tema era algo como “Acessibilidade das pessoas com deficiência ao mercado de trabalho”, ou algo bem próximo disso, pois me lembro que foi justamente o tema desse dia que mais se aproximou do cobrado pelo Enem daquele ano. Elga foi inteligente ao sugeri-lo, seu argumento foi de que, muito provavelmente, o vestibular abordaria algo que se ligasse as minorias.

Aos poucos, meus colegas foram concluindo suas redações e, pelo menos a metade, conseguiu que a professora corrigisse ainda naquela tarde. Eu não fui uma dessas pessoas, até porque meu tempo de construção do texto tinha sido consideravelmente menor.

Rafaela também não conseguiu entregar a redação na oficina daquele dia e acabou sendo uma das últimas a ficar na sala conosco. Elga organizava seus papéis enquanto nós escrevíamos. A professora de português, ao concluir a organização de sua bolsa, se despediu de nós e foi embora, porque já havia dado seu horário.

Resolvi deixar minha redação para concluir em casa e aproveitar a presença de Rafaela ali para me ajudar a organizar a sala, deixando as cadeiras enfileiradas e não em círculo.

Normalmente, eu fazia isso sozinha, porque Rafaela e Mateus moravam perto um do outro e iam embora assim que Elga terminava a correção de suas redações. Não que fosse um trabalho grandioso, era só arrastar cadeira para um lado, para o outro e pronto, estava organizada. As vezes, quando a professora tinha usado o quadro branco para explicar algo, eu tinha que apaga-lo, para deixar a sala como encontramos, mas novamente, não era nada demais o que eu fazia ali, mas estava contente de ter alguém para conversar enquanto arrumava a sala.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora