🟦 ̶N̶ã̶o̶ Tenha Diálogos Com Sua Mãe
Acordei com o coração aos pulos assustada com o som do despertador. Sonolenta, sem mal abrir meus olhos, estendi o braço para desativar o barulho irritante que tinha me trazido de volta para o mundo real e seus problemas, mas foi nesse ânimo revoltado que acabei esbarrando na minha capivarinha.
A miniatura de argila voou para o chão e nele se partiu em três pedaços, além de espalhar pequenas migalhas de barro por todos os cantos que conseguia ver. Levei a mão a boca, agora ainda mais assustada e com uma péssima sensação de que aquilo não significava coisa boa.
Me sentei no chão frio para catar os pedaços da capivarinha que Benjamin tinha me presenteado ainda quando estávamos no Piauí, exatamente no dia do nosso primeiro beijo. Ela tinha se quebrado justamente no momento em que qualquer perspectiva de ganhar novos beijos dele estavam perdidas.
Enquanto pegava uma caixa de papel que eu mesma tinha confeccionado nas férias anteriores, a realidade foi se tornando cada vez mais palpável, como se viesse em pequenas partículas de poeira e fosse se instalando dentro de mim. Coloquei o que restava da capivarinha dentro da caixa, fechei e a guardei em um cantinho do meu guarda-roupas, não queria me desfazer daquele presente, assim como não queria apagar o que eu sentia por Benjamin.
Voltei para a cama e me cobri dos pés a cabeça, não iria a escola, não sairia nem do quarto, se possível. Esses eram os meus planos para aquela quinta-feira, mas é claro que dona Lívia Maria, minha mãe, entraria de repente e viria, como quem não quer nada e é muito amiga e compreensiva, conversar comigo.
Infelizmente daquela vez ela não se deparou com a porta trancada, pois na noite anterior eu estava tão para baixo que não me atentei a isso.
- Que barulho foi esse? - Questionou preocupada.
Tirei o cobertor da cabeça e olhei para minha mãe já vestida e maquiada para ir a galeria onde trabalhava.
- Nada, só uma coisa que caiu.
- Ah. - soltou ela. - Alice, eu preciso conversar com você. - Disse de uma vez, como se já viesse martelando aquela fala há algum tempo.
- Lá vem... - Murmurei.
- Não, lá vem não. Você precisa me escutar e eu preciso de respostas.
Encarei minha mãe com desdém e esperei que ela continuasse.
- Você esta se sentindo bem? - questionou, por fim. - Como você está, minha filha?
- O que a senhora quer que eu diga, mãe? - Respondi em tom cansado, como quem não quer prolongar aquela conversa.
- Quero que compartilhe comigo como está se sentindo, Alice, se você se sentir confortável... - Disse de maneira amena, talvez para tentar me convencer a falar.
Respirei fundo e ponderei pelo que deve ter durado uns dois minutos, dos quais ela aproveitou para sentar aos meus pés na cama, silenciosa, aguardando pacientemente por uma resposta.
Eu poderia intensificar meus modos mau-humarados, mostrar uma cara feia e responder que me sentiria completamente e inteiramente desconfortável em compartilhar qualquer coisa que fosse com ela, logo ela que tinha mentido, vestido sua máscara para mim!
Ou eu poderia sucumbir a menina que precisava de colo naquele momento, a que queria conversar, entender e perdoar sua mãe pela falta de sinceridade, a menina que queria chorar pelo desarranjo que suas escolhas tinham tomado, por estar perdendo o homem por quem estava apaixonada porque ele era um adulto e precisava seguir com suas responsabilidades e... Porque tinha descoberto que sua amiga a tinha traído, bem, não era tão amiga assim. Na verdade, não era amiga coisa nenhuma.
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomansaQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...