🟦 ̶N̶ã̶o̶ Discuta com Seu Pai
Sentei na cama que rangeu com meu peso, aquele tinha sido meu quarto em outra época, em uma das fases que deveria ter sido a melhor de minha vida, em que a maior preocupação era conseguir permissão de minha mãe para brincar na calçada com a vizinha.
Nenhum dos móveis no ambiente tinham sido meus, o quarto estava reformado e uma cama de solteiro frouxa e um guarda-roupas de madeira gasta tinha sido adicionado ali.
Querendo me aproximar das últimas sensações boas que tinha sentido, abri o álbum da viagem na galeria de fotos do meu celular e fiquei rolando de uma fotografia para outra, a maioria era com Rafa e Mateus.Escutei a voz de meu pai me chamando para a sala, para ficar com eles, provavelmente iria colocar um dos seus filmes chatos de ação. Revirei os olhos e deitei na cama ignorando a voz, estava ali obrigada, diria até por chantagem emocional, pois o que mais me diziam era: o importante é que seu pai ainda está por aqui, valorize enquanto o tem. Por isso aceitei o convite para passar o final de semana em sua casa com ele e uma Clarissa grávida.
Pelo menos, era dizendo isso que eu mascarava a vontade genuína de ter a atenção e dedicação que um dia foram devotadas por ele a mim.
Apesar desse remorso, angústia e drama todo, eu não conseguia me manter como a rebelde, pois a ideia de passar por egoísta me envergonhava. Deixei o celular sobre a cama e sai do quarto estreitando os olhos para a claridade que estava na sala por causa das luzes acesas. Quando consegui enxergar com clareza, percebi Clarissa esparramada sobre o sofá, não parecia com a mesma mulher que tinha me oferecido bolo com cobertura de ninho na última vez em que estive naquela casa, parecia mais que um daqueles aparelhos de encher bola tinha sido colocado em sua boca até que inchasse o máximo sem que a pele se rompesse.
Meu pai passou por mim carregando uma bacia de pipoca nas mãos e a garrafa com suco que ele tentava equilibrar. O sofá rangeu com Clarissa tentando se acomodar nele, ela buscava se sentar, mas encontrava certa dificuldade. Àquela altura, já estava com sete meses de gestação, a barriga grandiosa que mais parecia carregar gêmeos.
Meu pai se acomodou ao lado dela, serviu o suco e me encarou de cenho franzido, sem entender porque eu ainda estava parada ali como uma estátua. Na verdade, nem eu entendi porque aquela cena tão comum deles me tomou tanta atenção.
Sentei no tapete com as costas apoiadas ao sofá onde eles estavam. Não opinei sobre a escolha do filme, não queria nem estar ali, então deixei que meu pai escolhesse.
Como imaginava, era um filme de ação, não gosto desses filmes, mas as cenas rápidas e repletas de reviravoltas inverossimeis sempre acabam me prendendo e daquela vez não tinha sido diferente.O personagem principal percorria de carro a cidade em alta velocidade perseguindo o suposto sequestrador de sua sobrinha, tudo passava rápido pela janela do carro e isso me fazia lembrar das aulas de física, mais especificamente do conteúdo de cinemática que explica o movimento como relativo, pois depende de um referencial. Aquele motorista estava em repouso se eu levasse como referencial seu próprio carro, mas em movimento se eu mudasse o referencial para um dos pedestres que observavam boquiabertos a perseguição.
Começava a respirar rápido vidrada no filme, torcia para que ele pegasse o cara, mas o sequestrador dirigia tão rápido quanto, até que um caminhão apareceu de repente na frente do personagem principal que, não conseguindo frear a tempo, entrou com tudo embaixo do caminhão e Cabuuuum! Seu carro explodiu.
- Aí meu Deus... - Disse Clarissa.
- Demais, né? - alogiou meu pai.
- Não, tô passando mal... - Esclareceu. - tô muito enjoada, tá ficando tudo embaçado...
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomanceQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...