Das Senhoras Mais Abatidas e Desgraçadas

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Harry podia sentir as portas maciças do Salão Principal surgindo atrás dele, mas não tão intensamente quanto sentia a ausência de Remus. Era tangível, como um fantasma deixado no rastro de seu guardião para assombrá-lo. Os dedos de Harry ainda formigavam com a memória de um toque que ele não queria encerrar. Ele lamentou com um suspiro e se virou para passar a soleira de volta para o mundo dos vivos.

O salão não estava cheio, mas ainda era muito povoado para o gosto de Harry. Os alunos estavam espalhados em grupos esparsos, estudando ou então conversando preguiçosamente enquanto cuidavam dos restos de um longo café da manhã frio. A melancolia se instalou na multidão como uma névoa, e as pequenas risadas que se ouviam eram abafadas e subjugadas.

Harry supôs que Snape não era o único professor distribuindo lição de casa enquanto espiava vários livros abertos e penas balançando. Na verdade, um aluno no final da mesa da Grifinória parecia estar cercado por uma verdadeira fortaleza de textos. Harry gemeu interiormente pensando em quanto dever de casa ele estaria fazendo além de seus estudos especiais, embora ele achasse que poderia ter uma oportunidade de recuperar o atraso, já que também percebeu que ninguém parecia estar muito preocupado com o tempo. Deve ser fim de semana de novo. Levou um momento para absorver o fato de que havia perdido uma semana inteira na escola. Ele não tinha ideia de como explicaria sua ausência.

Mas mais do que temia perguntas sobre seu reaparecimento repentino, Harry temia que outras trocas estranhas com certeza viriam com eles. Sempre havia aqueles poucos bajuladores que pareciam pensar que ler sobre ele nos tablóides tornava Harry seu amigo. Poucas coisas o irritavam mais em ser O-Menino-Que-Sobreviveu do que a atitude familiar de estranhos. Eles o parabenizariam como os retratos no escritório de Dumbledore? Eles presumiriam que ele expulsou os Dementadores sozinho? Eles o agradeceriam por salvar suas vidas?

Harry não queria a gratidão inconstante dessas crianças. Ele se sentia tão distante deles, muito mais velho do que seus dezesseis anos, que quase parecia cômico ainda estar freqüentando a escola. Harry os observou se estressando com o dever de casa, passando notas, conversando sobre quadribol. Harry invejava e desprezava a inocência deles e amaldiçoava a si mesmo que sempre teria que pular para resgatá-los; que isso era esperado dele agora, até de si mesmo. Ele sabia que eles nunca entenderiam quão relutante era seu senso de dever ou como isso o fazia odiá-los um pouco mais a cada dia por sua vulnerabilidade, sua indefesa.

Harry tinha acabado de reconhecer esse ódio a si mesmo. Ele temia, mas não podia bani-lo. As palavras de Voldemort penetraram em sua consciência como veneno em suas veias. Talvez ele estivesse certo. Talvez tenha sido assim que tudo começou para Tom Riddle, também, esse ressentimento sutil. Harry se perguntou o que seus colegas esperariam que ele dissesse aos seus agradecimentos, podia se imaginar lutando para não lhes dizer exatamente o que fazer com sua gratidão. Ele duvidava que eles entenderiam seu silêncio. Eles lhe fariam olhares de pena e ofereceriam condolências por sua perda, e ele não teria permissão para cruciá-los.

Harry de repente sentiu que o café da manhã era uma má ideia. Ninguém o havia notado ainda, então ele se voltou para as portas. Se ele tivesse que se juntar novamente à população de estudantes, ele raciocinou, seria melhor se envolver com pessoas que ele conhecia. Ele simplesmente iria para os dormitórios e ...

Harry congelou no meio de um passo. O que ele faria nos dormitórios? Encarar a cama vazia de Ron? Com a ausência de seu suéter pendurado descuidadamente nas costas da cadeira? Com a completa falta de embalagens de doces espalhadas pelo chão? Mas se não fosse para os dormitórios, para onde ele poderia ir? Não havia nenhum lugar em Hogwarts que não lembrasse Harry de Ron.

Ele tentou sair do Salão de qualquer maneira. Ele teve o impulso de correr gritando para a Floresta Proibida. Talvez ele pudesse encontrar Bicuço. Talvez ele simplesmente voasse para longe e deixasse tudo isso para trás. Mas as pernas de Harry não obedeceram. Enquanto sua mente voava livre em devaneios, os pés de Harry pareciam plantar raízes; até que algo o atingiu rudemente por trás e o fez tropeçar para frente. Despertado, os membros de Harry o viraram para enfrentar seu agressor.

The Proud Man's Contumely (Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora