60. NÃO FOI NADA. (revisado)

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Eu aceito, óbvio. — Marcelo respondeu prontamente ao seu convite para defender o jovem Lucas assim que propôs a ideia. — Qualquer amigo seu é meu amigo também.

Suspirou aliviado, depois de toda essa loucura achou que talvez o amigo não quisesse mais contato com ninguém da sua família sequelada, mas como sempre o outro se mostrou um verdadeiro porto seguro para ele, alguém disposto a ajudar sem objeções. O negro colocou as mãos nos bolsos da calça e seguiu caminhando pelo jardim com ele ao seu lado, o cheiro de fumaça ainda pairava no ar incomodando seu nariz e fazendo a garganta de Ricardo coçar. Porém Marcelo parecia não notar o cheiro, estava um pouco distante, como se pensasse em outra coisa.
Pigarreou e pôs fim ao incômodo silêncio que estava entre os dois.

— Obrigado, não conheço um advogado melhor que você. — Respondeu sorrindo quebrando o gelo, apesar de fraco o sorriso era sincero.

O outro o encarou, um leve sorriso brotou em seus lábios carnudos como resposta ao seu.

— Eu fui seu primeiro amor, Ricardo? — Marcelo Indagou ainda com o leve sorriso no rosto, porém havia um certo tom de algo na sua pergunta.

A pergunta o pegou de surpresa, não sabia o que dizer assim do nada, Oh merda. Parou de andar com o choque da questão que acabara de ouvir e encarou o negro com um nó na garganta, o outro também parou acompanhando seus movimentos e com olhos fixos nele. Vinte anos haviam se passado e nunca achou que o amigo pudesse um dia ficar sabendo disso, ainda mais naquela situação, no entanto lá estava ele cheio de curiosidade querendo saber sobre um amor adolescente que a muito tempo se foi.
Se encheu de vergonha e desviou o olhar, Marcelo com certeza era heterossexual e não aceitaria essa situação numa boa, concluiu.

— Eu... — Tentou formar uma frase, no entanto não conseguia sequer organizar seus pensamentos. — Não...

— A verdade, por favor... — O outro insistiu o deixando sem alternativas.

Abaixou a cabeça, não podia mentir mais, já tinha construído um rastro de falsidades que cresceram tanto até quase sufocá-lo. Mentir era quase um vício, uma obrigação, começava a achar que existia uma cadeira especial para ele no inferno por ser tão mentiroso. Não queria ter mentir mais para ninguém, ainda mais aquele que o conhecia tão bem desde que era apenas um garoto.

— Sim... — Admitiu e prontamente se pôs em defensiva. — Mas eu não podia controlar, você tem que me entender, me desculpe... Eu só tinha doze anos e ainda não sabia o que era uma paixão!

— Ei, calma. — O outro colocou a mão em seu ombro e apertou abrindo ainda mais seu luminoso sorriso. — Não se desculpe por ser quem é, só estou curioso.

Balançou a cabeça, Por que estou assim? Não posso mais agir como se fosse um tipo de crime ser o que sou.
Sorriu levantando a cabeça e olhando nos olhos de Marcelo.

— Ah, eu só... — Passou a mão no rosto, notou que estava suando como se estivesse em um julgamento difícil. — Me desculpe novamente, nem sei porquê fiquei nervoso, sou tão idiota.

— Então quer dizer que já fui dono desse coração... — O outro disparou bem humorado, o olhar preso nos seus. — Bom, já que estamos sendo honestos um com o outro posso te contar um segredo para que não fique assim tão assustado perto de mim?

Confirmou com a cabeça, embora soubesse que não havia como se sentir menos envergonhado naquele momento.

— Pode falar, estou ouvindo. — Disse dessa vez mais convicto, tentando deixar o nervosismo de lado.

O sorriso do outro mudou, se tornando um meio sorriso um tanto travesso.

— Você também era o dono do meu humilde coração nessa época. — Disse erguendo as sobrancelhas como se falasse algo extremamente banal. — E bom, é bom saber que era recíproco embora também seja chato pensar que nunca pudemos fazer nada com relação a isso.

Mensagem Proibida (Em Revisão E Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora