65. COM CARINHO E GRATIDÃO, VÍTOR

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Olhou o céu pela janela do quarto. Morar em outra estado era pior do que imaginava, mas por enquanto era a única opção, não tinha mais espaço para ele na sua antiga cidade, todos sabiam o que ele fez e não aguentaria os olhares curiosos por onde quer que passasse. Sua tia fazia o possível para que ele não se sentisse sozinho;  conversava muito com ele, o incluía nos passeios em família e lhe dava presentes sempre que possível. No entanto, Lucas não era feliz vivendo ali, naquela casa onde era um estranho. Todas as noites sonhava com o dia em que tirou a vida do irmão, e todas as noites acordava triste. Por que tinha que ser assim? Por que Nilson não podia simplesmente ser um bom irmão e cuidar dele como qualquer pessoa dedicada faria? Ainda lembrava com amargura das vezes em que apanhou do mais velho quando esse chegava bêbado e revoltado por alguma coisa idiota.

Tia Irene era irmã de sua falecida mãe, tinha um pequeno restaurante e deu a ele um emprego como garçom enquanto ele não conseguia um trabalho, ele relutou em aceitar, queria poder fazer suas escolhas já que nunca pôde ter autonomia ao lado do irmão, porém a necessidade de ter uma renda falou mais alto. Ela era uma mulher de meia idade comum, adorava novelas e filmes antigos, não gostava que ele ou seus filhos saíssem muito tarde e não admitia que andassem fora da linha de maneira nenhuma.
Elas tinha valores dos quais não abria mão.

— Filho. — Ela disse ao entrar em seu quarto sem bater enquanto vestia uma camisola florida, nas suas mãos trazia uma espécie de caixa que estava embalada em um de papel bege. — Isso chegou para você.

Estava sentado sobre a cama e ficou de pé num salto ao vê-la. A mulher era parda e alta, como sua mãe foi e tinha olhos e cabelos escuros. Irene era ainda muito bonita ainda, embora fosse um pouco descuidada com sua aparência.

— Pra mim? — Perguntou pegando a embalagem.

De fato era uma caixa de papelão, sentiu a rigidez sob o papel bege que a cobria. Sem esperar mais rasgou o papel com uma das mãos e um envelope caiu no chão.

— Foi aquele rapaz... — A mulher estalou os dedos tentando lembrar o nome. — O tal Vítor que mandou para você, ele ligou para cá alguns dias atrás e perguntou se  já havia chegado a encomenda que ele enviou quando estava em São Paulo.

Sorriu, adorava conversar por telefone com Vítor, não tinha comprado um celular novo ainda pois preferia dá a maior parte de seu dinheiro para a tia para que ela mantivesse a casa. Vítor era uma pessoa agradável e isso o ajudava a se sentir menos deslocado, fora que tinham algumas coisas em comum. Se abaixou e pegou o envelope do chão, olhou bem e percebeu que era uma carta escrita a mão.

— Valeu por trazer tia, — Disse mais animado. — eu amo você.

A mulher passou uma mão em seu rosto, o olhar carinhoso e preocupado com ele. A mulher ficava feliz ao vê-lo alegre assim, já que passava muito tempo deprimido em seu quarto.

— Quando terminar estarei lá em baixo. — Ela se inclinou para frente e beijou sua testa rapidamente. — Vou fazer um café pra gente ir trabalhar, tá bom?

— Já vou lá. — Afirmou quando ela o soltou e se virou para ir embora.

A mulher saiu e fechou a porta do seu quarto enquanto ele se sentava na cama com os presentes recebidos. Lucas colocou a carta ao seu lado e terminou de rasgar o papel que revestia a caixa de papelão, estava curioso.

— Uau. — Exclamou ao perceber que se tratava de uma caixa de livros.

Pelo peso concluiu que deviam ter ali pelo menos dez livros ali dentro organizados de modo a ocupar cada centímetro da caixa. Alguns eram de terror, outros de romance, poesia, vários gêneros. Sorriu pra si mesmo contente, era um presente agradável. Embora não fosse uma pessoa muito voltada à leitura, prometeu a si mesmo que iria ler cada um dos exemplares ali presentes. Depois de terminar de folhear as folhas de um dos livros pegou a carta para si e levantou da cama, deixando seus presentes espalhados sobre ela.
Se dirigiu para a janela, o céu ainda estava lindo, o vento que entrava pela mesma era refrescante.
Apoiou-se e abriu o envelope desdobrando a folha.

Mensagem Proibida (Em Revisão E Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora