59. DOIS CENTÍMETROS

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A madrugada passava lentamente, ambos nãos tinham muito mais o que conversar ou que fazer a não ser ficarem deitados já que já tinham falado de muitas coisas: como foi no hospital, como Tomás estava, como apanhar de um louco psicopata doía. Ele não conseguia dormir aflito, com a cabeça a mil pensando no quão louco havia sido seu dia; Vítor estava arrasado e com total razão, quase morrera e também quase perdeu o melhor amigo e o “amor” de sua vida... Deslizou seu dedo áspero sobre a curva do ombro do mais velho. Vítor estava deitado com a cabeça em seu ombro e uma mão descansando em seu peito, o único som que era perceptível era o da respiração dele.

— Vou sentir falta disso... — Vítor disse de forma lenta, a voz era um pouco mais que um sussurro rouco. — Nós dois aqui... Juntos...

Pigarreou, essas coisas sentimentais não eram sua praia, conversavam sobre isso algumas vezes porque o advogado tinha uma queda por crises existenciais. Nas últimas semanas, as que passaram juntos, falou sobre essas coisas com o rapaz mais vezes que falou com qualquer outra pessoa em toda sua vida

— Bom, eu, han... — Forçou uma tossida. — Eu também. — Disse por fim. — Nós dois somos uma boa dupla.

Olhou para ele. O rosto já tinha melhorado um pouco, não estava mais tão inchado como estava mais cedo. Os olhos ainda estavam vermelho onde deviam ser brancos, e ele não tinha noção se era pelas agressões ou por outros motivos.

— É, somos... — Ele se mexeu desconfortável em seu peito, estava reflexivo.

Concluiu que talvez ele quisesse lhe dizer algo, e talvez não falou ainda por ter medo de ferir seus sentimentos o que pareceu uma ideia divertida. Quantas pessoas pensam mais nos outros que em si mesmos depois de ter quase morrido? Ítalo não entendia, mas tinha uma certeza: não seria tão empático se isso tivesse acontecido com ele.
Suspirou e disse:

— Vai, fala o que está afligindo esse coração. — Pediu virando os olhos para o teto, se ia levar um pé na bunda, então ótimo, que seja de uma vez.

Não era o tipo que forçava relações, chantagens baratas não eram com ele, gostava de flertar, da conquista, de instigar, e isso era muito melhor quando a pessoa alvo de interesse se fazia de difícil, mas só. Ao conhecer o advogado ao seu lado, viu o lampejo de curiosidade em seus olhos, uma fagulha de desejo que sempre crescia quando passava uma de suas cantadas de pedreiro, isso o fez continuar, se algum sinal de desprezo tivesse surgido naqueles olhos, então, teria desistido. Quem quer que quisesse estar com ele o faria por si mesmo, não teria que ter medo ou se sentir obrigado a ficar.
Era adulto o suficiente para entender isso.

— Você sabe que quando eu for isso nunca mais vai acontecer, — Ele engoliu em seco, ele não viu, mas ouviu o som que o pomo de Vítor fez ao subir e descer. — nós dois não poderemos mais ficar juntos...

— Eu entendo... — Respondeu. — Nossos caminhos têm que se separar, não é? Eu aceito numa boa.

— Eu lamento por tudo o que aconteceu ontem, não tive tempo de falar o quanto você é... — O mais velho suspirou. — Tô sendo um chato, não é?

Beijou a testa dele.

— Não, — Afirmou inspirando fundo e sentindo o cheiro da sua pele. — você não é chato.

Se mexeu na cama e se afastou um pouco para poder encarar ele, gostava disso. Às vezes quando dormia ali e o sono simplesmente não vinha passava horas olhando para ele, isso era engraçado pois Vítor falava dormindo, o que deixava tudo engraçado.

— Fui babaca com com você. — Vítor disse. — Eu julgava seu modo de ser, sabe, o jeito como você flertava, dando em cima de mulheres casadas e de qualquer um.

Mensagem Proibida (Em Revisão E Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora