Abriu os olhos enquanto uma silhueta esquia caminhava pelo quarto em silêncio. Piscou algumas vezes, pois, não reconhecera o ambiente, demorou um pouco para voltar a realidade, até que ela caiu sobre ele como uma bomba: não estava mais em sua casa pequena e aconchegante, assim como não estava em sua cama macia. Com pesar recordou que saiu de sua casa como um fugitivo no meio da madrugada e se mudou para outra cidade. Foi mais de 4 horas de carro, mais de 210 quilômetros, passou por outras 11 cidades até chegar a esse pacato município para poder dormir sem medo de Nil.
Chegou na casa do tio de Tomy quase de manhã, e com muita tristeza deu a chave de seu lar para seu amigo poder cuidar das suas coisas deixadas para trás.—Bom dia, — Se levantou vagarosamente olhando para o dono da casa que se aproximava dele com um sorriso simpático. —tudo bem?
—Boa tarde. — O gentil-homem se aproximou, tinha no mínimo uns 45 anos e era magro, seu sorriso fácil era encantador. Sentia confiança nele. —Não queria ter de te acordar, mas já são duas horas da tarde. Você deve comer algo.
—Que? Dormi tudo isso? —Arregalou os olhos e sentiu preocupação com seu cão. —O Nenê deve tá faminto.
O mais velho levantou as mãos como quem pede calma.
—Já coloquei ração para ele. — O homem respondeu abaixando as mãos. Vítor o observou, seus trejeitos afeminados logo denunciaram que também era gay, como ele. —Não suporto ver bichinhos com fome, em hipótese nenhuma.
—Muito obrigado. —Agradeceu bocejando com a mão na boca. — Posso tomar um banho antes de comer?
—Ora, claro que pode. — O mais velho deu de ombros. —Você mora aqui agora, pode ir aonde quiser, o banheiro fica no final do corredor.
—Obrigado, —Forçou um sorriso. —estou faminto mas antes preciso lavar minha cara.
Abriu sua mala que estava no chão e procurou seus pertences ali guardados. Pôs sua toalha no ombro e pegou sua escova de dentes, creme dental e saboneteira. Empilhou tudo debaixo do braço e ficou de pé.
—Vou esquentar a comida, te espero na cozinha. —O homem anunciou e saiu caminhando e nem deixou Vítor lhe responder.
Com pressa saiu do quarto a procura do banheiro. Paredes azuis com dezenas de fotos espalhadas, assim era o corredor que dava acesso ao banheiro, um grande espaço cheio de memórias. Seus olhos percorreram as fotos com curiosidade e logo reconheceram um rosto conhecido bem no meio da parede cheia de retratos: Tomás. Se aproximou e olhou com mais cuidado a imagem, o amigo devia ter uns 12 anos, estava de terno na frente de um altar, possivelmente era um batismo ou comunhão, não saberia dizer já que não era muito ligado a religião.
A frase “batismo do Tomy" escrita na moldura do retrato.—Olha só... — Exclamou soltando uma risada. —Nem dá pra acreditar.
Tenho que me lembrar de zoar o Tomás, pensou retomando o caminho para o banheiro, o chão do cômodo tinha carpetes com desenhos de animais e os azulejos eram alternadamente brancos e azuis. Pendurou sua toalha num gancho ao lado da porta e deixou suas coisas sobre a pia, ao tirar suas roupas se enfiou debaixo do chuveiro de uma vez. A água estava gelada, o que era uma maravilha considerando a tarde quente, não se demorou, quando terminou escovou os dentes e se vestiu lá mesmo. Não iria sair andando de toalha na casa de outra pessoa, ainda não o conhecia bem e temia não ser bem aceito.
Quando terminou de pentear os cabelos se encarou no espelho, na lateral do nariz uma cicatriz o lembrava das agressões que sofrera e que nunca mais poderiam se repetir.
Saiu do banheiro antes que as lembranças o fizessem chorar.—Quer refrigerante? —O homem perguntou quando apareceu na cozinha.
—Quero sim, obrigado seu... —Deixou a frase incompleta e gesticulou com a mão pois não sabia o nome do homem.
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Mensagem Proibida (Em Revisão E Mudanças)
Storie d'amoreVítor sempre teve uma queda pelo patrão, mas guardou seus sentimentos pra si. Até uma certa noite onde descontou sua frustração na bebida e tomou uma decisão estúpida que mudou o rumo de tudo.