27. CONVERSAS BOBAS

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Ajudou o amigo arrumar todas as coisas em caixas, pelo menos o que conseguiram, deram destaque para as coisas importantes. O silêncio de Vítor era sepulcral, ele estava com vergonha, medo e principalmente cheio de tristeza. O conhecia bem, afinal já chegaram a morar juntos, sabia que dentro daquela cabecinha oca muitos pensamentos negativos deviam estar o destruindo por dentro.
Resolveu puxar assunto.

— Que horas são? — Perguntou.

O advogado passava fita isolante numa caixa cheia de sapatos, ao ouvir a pergunta piscou como se estivesse com a cabeça em outra dimensão.

— Espera... — Ele pigarreou e voltou seus olhos para o celular na sua frente sobre a mesa da cozinha, ele estendeu a mão e o pegou. — São 2:15, tá muito tarde.

Refletiu um instante sobre isso, estava de pé fazendo mesmo que o advogado, só que sobre a pia.

— Ok, — Disse se virando para olhar o outro e apoiando as mãos na pia. — São umas 4 horas de carro, então saindo até às 3 vou poder chegar no trabalho sem me atrasar muito.

— Desculpe. — O mais velho o encarou com os olhos completamente vermelhos de tanto chorar. — Não queria te envolver nessa merda toda.

O pardo apoiou o cotovelo sobre a mesa e começou a passar a mão no rosto, com certeza iria começar a chorar de novo.

— Ei, — Se aproximou e se inclinou o abraçando por trás demonstrando afeto. — não tô reclamando, eu gosto de ajudar você, sabe disso.

— Só que... — O outro tentou falar com a voz embargada.

— Só que nada. — Se agachou ao lado do amigo e se apoiando nos joelhos. — Temos que cuidar logo disso, nada de perder tempo chorando por causa daquele saco de bosta, tá bom?

Vítor limpou os olhos e balançou a cabeça em concordância.

— Você tá certo, — O advogado fungou. — eu tenho que parar de ser tão frouxo.

— Olha só gatinho, — Ficou de pé novamente. — vai trocar essa roupa suja, já embalamos o principal e por um tempo isso vai bastar.

O mais velho acenou com a cabeça obediente aos seus comandos.

— Você tem razão. — O outro ficou de pé se dando conta que estava coberto de sujeira. — Seu tio com certeza vai me achar um maluco se me encontrar assim na porta dele.

— Exatamente, — O amigo se levantou e saiu da cozinha já tirando seu terno. — vai lá.

Colocou as mãos no quadril, sua rotina sem seu melhor amigo seria um porre, sabia disso. Mas saber que ele estaria bem e longe de perigo amenizava sua partida. Olhou para o canto da parede onde o cãozinho Nenê dormia todas as noites, o animal estava deitado sobre sua almofada o encarando com seus grandes olhos dourados. Se aproximou dele e se abaixou para acariciá-lo, passou a mão no focinho dele e o cão devolveu o carinho lambendo seus dedos.

— Vou sentir sua falta amiguinho. — Nenê balançou o rabo. — Cuida do seu papai, ele não tá legal.

A caixa de transporte onde o animal seria levado estava do lado da geladeira coberta de poeira, E não vai demorar para tudo nessa casa ficar coberto de poeira, pensou imaginando como tudo ficaria sem a presença do outro. Deixou Nenê em seu canto e foi para a sala, perto da velha TV do amigo tinham alguns porta retratos antigos, alguns estavam até mesmo quebrados e remendados com fita e barbante.
Os recolheu e levou para o quarto.

— Seus retratos. — Levantou a mãos com os objetos e mostrou para o outro .

Vítor fechava o zíper de uma calça jeans e usava uma camisa de mangas compridas.

Mensagem Proibida (Em Revisão E Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora