Capitulo 04

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Fui ao parque por dois motivos: primeiro, porque precisava por a cabeça no lugar antes de mergulhar nessa loucura, segundo, porque queria adiar o máximo possível o que aconteceria quando pusesse os pés na Cookies n Coffee.

Então levei minhas compras até meu apartamento, tomei um longo banho de banheira protelando e relaxando até minhas mãos parecerem uvas passas, troquei de roupa seis vezes até decidir que uma simples calça jeans de lavagem clara e uma blusa branca soltinha bastava, troquei de sapatos mais quatro vezes antes de ficar definitivamente com a bota preta de cano baixo e briguei com meu cabelo até simplesmente fazer um maldito coque baixo porque não fazia sentido estar me arrumando tanto assim.

Então, para parecer ao menos ridícula e casual, coloquei os óculos escuros que Stephanie sempre dizia serem horríveis.

E saí.

Claro que ao invés de ir diretamente para a cafeteria, decidi que passar pelo parque seria uma ótima maneira de me acalmar.

Árvores, banquinhos, pessoas felizes e todas essas coisas.

Eu apenas me esqueci de dois detalhes.

Detalhe número um: tinha uma lembrança sobre estar com Carina DeLuca há pouco menos de quatro anos, em um parque, deitadas sobre uma toalha xadrez clichê em uma grama verde debaixo de uma árvore curtindo a sombra e o céu azul acima de nós.

E Carina  falava sobre família enquanto víamos crianças brincando e casais felizes, então eu sabia que ela moraria em um lugar como esse.

Ela estava tão linda que eu jamais esqueceria seus cabelos ao vento, a sarda em seu rosto, suas roupas juvenis e o jeito como me olhava admirada.

Carina  me amava.

O detalhe número dois era que não somente eu estava de ferias naquele final de julho, como as demais crianças e adolescentes que se divertiam no parque.

E um terceiro detalhe que evitei adicionar a lista era que havia uma criança de três anos que poderia estar entre qualquer uma dessas outras crianças que seria filha da mesma garota que esteve comigo em um piquenique em um parque quando eu estava grávida.

Poderia ser Angelica, porque eu tinha certeza quase absoluta de que era ela, mas poderia ser a garota geniosa do supermercado com quem debati e tinha um dos estilos de Carina marcado, além de ter saído acompanhada de alguém que poderia ser ela.

E poderia também ser a menina loira que me atropelou, já que a única coisa que vi quando nasceu era que seus cabelos pareciam ser claros.

Mas claro, poderia ser a garotinha agachada a poucos metros de distância sendo nojenta e comendo terra.

Poderia ser a menina que fazia uma montanha de areia próxima aos balanços ou mesmo a garotinha de cabelos castanhos claros e laços que tentava inutilmente se balançar.

Poderia ser qualquer uma delas, então Carina  estaria em um dos banquinhos a observando, ou deitada com ela debaixo de uma árvore, ou as duas estariam correndo pela grama ou alimentando os pássaros na margem do lago.

Meu coração de contorcia só em tentar imaginar como estaria Carina DeLuca.

Não, era melhor não tentar. Eu não queria imagina-la seguindo em frente com outra pessoa, mesmo que tenha me dito que esperaria que eu buscasse por ela.

As coisas mudam.

Eu não queria imaginar sua vida sem mim.

E mesmo assim estava prestes a invadi-la...

Suspirei, exausta de meus pensamentos, e massageando o cenho novamente me virei em direção a cafeteria, onde tudo viraria algo que não saberia descrever.

E que eu não tropeçasse em mais nenhuma criança ou ficaria paranóica, a...

-Cake, não corra a minha frente ou posso perder você de...

Tudo foi muito rápido.

Olhando para baixo, minhas mãos seguravam desajeitadamente a coisinha de cabelos  bem claro presos em marias chiquinhas altas que bateu contra minhas pernas e quase caiu.

Olhando para cima, haviam os pares de olhos mais intensos que já tinha visto em minha vida. A mão que não segurava os dois pares de sandálias estava espalmada no peito e sua boca estava entreaberta.

-...Maya - sua voz rouca completou quase silenciosamente.

A menina em minhas mãos, ergueu os olhos ao mesmo tempo em que baixei os meus e seus olhos azuis encontraram os meus  enquanto ela se soltava.

A coisinha que chegava a altura de meus quadris correu e abraçou as pernas da figura a minha frente, que inconscientemente pousou a mão livre sobre sua cabeça.

Não era possível!

-Carina ... - murmurei, por algum motivo totalmente desacreditada daquele momento clichê.

A vi suspirar fechando os olhos por um segundo e erguer a mão que segurava as sandálias.

-Um minuto - me disse antes de se ajoelhar diante da menina cabisbaixa e sussurrar em espanhol - olhe para mim. Eu já te falei para não correr quando estamos na rua e não estamos brincando. Em quantas línguas você precisa que eu repita? Não faça mais isso, entendeu?

A criança ensaiou um soluço e um gemido longo.

-Por que está chorando? Se você não fizer mais isso não vai ter problemas - Carina murmurou e só então entendi que os soluços e gemidos que a coisinha emitia era de choro.

Dizendo ainda mais alguma coisa que não entendi, vi a menina se segurar nos ombros de Carina enquanto ela a calçava novamente com as mini sandálias vermelhas que combinavam com o mini vestido branco com desenhos de rosas.

Ela levou o dedinho indicador a boca, mas Carina suspirou e o abaixou quando se afastou para ve-la, secou os rastros de lágrimas de seu rosto redondo e se levantou, enfiando os pés no próprio calçado antes de segurar a mão da menina que mal chegava a altura de seus quadris e caminhar até onde eu estava, os olhos avaliando meu rosto.

-Maya... - ela murmurou quando estava perto o suficiente.

-Oi... - eu disse, nervosa demais para conseguir falar qualquer outra coisa.

Carina parecia ainda mais linda. Seu rosto ainda tinha o mesmo ar juvenil, mas seus cabelos estavam mais curtos, mal chegando a altura dos seios cobertos por uma blusa curta e soltinha vermelha.

Ela olhou para baixo e acompanhando seu olhar vi que a garota estava novamente com o indicador na boca e havia soltado a mão de Carina  para puxar sua saia preta comprida.

Carina  se abaixou e a pegou no colo, tirando novamente seu dedo da boca.

-Maya , essa é Cake - disse, mas acho que estava em choque demais para entender - Cake, diga oi para Maya.

O que?

Era a terceira vez que ouvia Carina chamar a menina de Bolo.

Quem dava um apelido desses para a filha?

Seja lá o que se passe na cabeça de Carina, Cake não pareceu muito feliz em me conhecer. Resmungou alguma coisa qualquer e escondeu o rosto no pescoço da mãe.

-Então diga a ela - Carina disse e vi a criança negar com a cabeça e Carina  rir, revirando os olhos - ela disse que você é muito bonita.

-Oh... obrigada?

O que estava acontecendo?

-Ela só está com vergonha por ter levado bronca... - Carina  explicou, ainda estudando meu rosto - você quer... conversar?

Assenti, tentando me livrar da paralisia súbita que a presença delas me causou.

Franzi o cenho e de repente a ideia de conversar me lembrou o que iria fazer.

-Eu estava indo para a Cookies, então... - sugeri e Carina assentiu.

-Claro - foi o que falou, se afastando para que eu seguisse em frente e ela se pusesse a caminhar a meu lado.

AEEEEEE FINALMENTE O ENCONTROO
AGORA VOU DEIXAR VOCÊS CURIOSAS POR UNS DIAS 😌

With All My HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora