Capitulo 39

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Cansada, cheguei em casa, deixei as chaves em cima da mesinha próxima a porta e parti diretamente para um banho relaxante onde tentei não pensar em nada enquanto sentia meus músculos desembaraçando.

Quando minhas mãos começaram a enrugar, me dei por satisteira e vesti o robe, enrolei uma toalha nos cabelos e peguei as roupas caídas no chão para colocar no cesto de roupas sujas.

Foi quando, do bolso no meu short, caiu uma pedrinha roxa.

A apanhei, deixando a roupa cair novamente no chão. De algum modo, em meu campo de visão surgiu uma caixa roxa que eu havia abandonado na cômoda.

Minhas mãos coçaram implorando para que eu a pegasse novamente e eu, como se estivesse em um transe, obedeci.

Em minha mente, meu dia com Carina e a coisinha ecoava, o som de seus risos como música de fundo e a imagem das duas rindo se repetindo.

Passei os dedos sobre o detalhe entalhado que tinha seu nome escrito.

A imagem de John diante de Dahlia voltou a minha mente e junto a ela minha ira.

A possibilidade dele saber da verdade e querer se aproximar me deixava com uma raiva inexplicável.

Sabia bem que não tinha direito de opinar e tentar impedir Carina de contacta-lo, mas ainda assim o havia feito porque... porque... porque eu estava certa!

Uma aflição me subiu a garganta como ácido.

Talvez Carina tivesse razão e fosse mais decente contar a John...

"Não importa", pensei "eu estou certa, ele não deve chegar perto dela. Ele não tem o direito, ela é..."

Prendi a respiração, tentando conter um pensamento que colocava tudo por terra.

Minhas mãos tremeram.

Seria um atestado de óbito a todos os sentimentos aos quais tinha conhecimento, mas eu sabia que uma coisa era certa: de alguma maneira, eu não era mais a mesma Maya de algumas semanas atrás ou mesmo a que despertou em minha cama hoje cedo.

Aquilo estava bagunçando com minha mente. Aquele impulso, o que eu disse no parque...

-Maya, você está ficando louca - disse antes de pegar a caixa e levar para a cama.

Respirei fundo e destampei a maldita caixa, a curiosidade e um montante de sentimentos novos me corroendo.

Decidi começar pelos objetos soltos, tirando uma pequena escova de cerdas macias, depois uma caixinha transparente com um par de brinquinhos dourados, então um lacinho vermelho.

Em seguida puxei uma pulseirinha de ouro que mal cabia em meus dedos. Então um caderno onde estava anotado algumas medidas e datas.

Corri como uma louca pelo apartamento, busquei uma fita métrica e segui as medidas do início ao fim da lista, que acabava em um tamanho muito próximo ao de Dahlia atualmente.

Passei para o álbum e me perdi entre as imagens de Carina e Dahlia rindo, a menina na banheira, vestida em muitas roupas de neve, no colo de Carina, as duas sujas de tintas ou de terra, ela em fantasias de panda, unicórnio, leão, urso... com Andy, Amélia e um punhado de rostos desconhecidos e sua imagem em seus únicos três aniversários, sendo o de dois anos uma selfie apenas mãe e filha.

Gastei um minuto a mais naquela imagem. A coisinha estava em pé sobre seu colo e as duas tinham no rosto sorrisos que escondiam seus olhos, tão parecidos que qualquer um juraria que Carina era sua mãe biológica.

Deixei o álbum de lado e com o que sobrava de minha coragem, agarrei o punhado de cartas e capturei a segunda.

Seja o que Deus quiser, Maya...

With All My HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora