Capitulo 18

1.6K 152 187
                                    



A criaturinha seguiu pendurada em Carina durante todo o caminho, ora pedindo para ser carregada, ora sendo carregada pelos braços porque tentava correr a frente e ao redor da mãe e de mim.

E ela falava o tempo todo, mas eu não entendia meia palavra e mesmo quando ela falava em espanhol eu não sabia o que dizer.

A maioria das vezes ela fazia perguntas e constatações bobas e Carina respondia pacientemente ou aplaudia.

Ela queria saber por que estávamos indo embora, por que eu estava indo junto com as duas, por que haviam patos no laguinho, por que os bancos não eram feitos de algodão, por que o algodão doce era rosa, por que os cachorros latiam.... ela queria saber tudo!

E insistia em me contar que meus chinelos eram azuis como o céu, haviam cinco bolinhas vermelhas - vulgo espinhas - em meu rosto, os patinhos no lago faziam quack, o carro vermelho estava ao lado do carro preto e ela não gostava da coisa verde - que ela disse saber que se chamava alface - que a "mama" colocava nos sanduíches.

E pulava e falava sem parar. Era como sair com um cachorrinho mal criado que não sabe passear na coleira e ficava dando voltas e mais voltas ao redor do dono enquanto latia para Deus e o mundo.

Acho que nunca tinha visto tanta energia acumulada em tão pouco espaço. Fala sério, a cabeça dela batia na altura de meus quadris.

Não imaginam minha cara de alívio quando Carina finalmente soltou seu braço e ela correu para a porta e se dependurou na maçaneta pedindo que a mãe fosse logo porque ela tinha que "fazer pipi".

-Um minuto, Maya - pediu Carina enquanto entrávamos - se sinta a vontade.

E saiu atrás da pestinha tagarela para voltar minutos depois rindo de alguma coisa.

-Mas você foi muito bem - ela elogiou, passando a mão por seus cabelos.

O trequinho me viu e - socorro - correu para mim, rindo, e se jogou contra minhas pernas.

-Maya, eu quase caí no peniquinho - contou e ouvi Carina  rir, coisa que me fez rir também.

-O que? - perguntei, um tanto em dúvida se tinha entendido o que aconteceu.

-Eu a tirei da fralda há três meses - contou Carina - e ela está indo muito bem. Exceto quando quase caiu do vaso agora pouco... Sorte que a segurei a tempo.

-Maya, você gosta de fazer pipi? - ela perguntou, fazendo meu rosto queimar de vergonha.

Que tipo de pergunta era aquela?

-Hã... sim? - olhei para Carina pedindo socorro, mas ela apenas sorria.

-Eu não gosto - a coisinha disse - faz frio no bumbum.

Carina riu mais uma vez e a encarei. Ela parecia tão criança quanto a filha enquanto ria e nos observava. Eu podia ver em seus olhinhos cobertos pela bochecha protuberante o quanto ela estava feliz.

-Ok, chega dessa história de xixi - ela disse - por que você não faz um desenho para nós enquanto Maya e eu fazemos sanduíches?

-Tá! - exclamou a criaturinha e ela me soltou e correu para o quarto.

Voltei meu olhar para Carina, que mordia o lábio inferior e me chamou com o indicador.

-Vem cá - chamou.

Me aproximei. Minhas mãos pousaram automaticamente sobre seus quadris e as dela pousaram em meus ombros.

Seu rosto estava corado de riso e de sol e seus olhos brilhavam enquanto ela me olhava com uma curiosidade doce e infantil.

With All My HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora