Capitulo 47

1.6K 153 233
                                    





Preciso confessar que estava morrendo de saudades de minha família e encontrá-los para o Natal foi como preencher meu coração de algo quente e fofinho.

Minha irmã estava tão crescida e meu pai ainda tinha seu jeito protetor e brincalhão. Minha mãe mal me viu e perguntou por Carina e Dahlia, mas era o jeito dela de querer saber tudo sobre mim.

Não havia muito a se dizer, mas ela ficou satisfeita quando garanti que as duas viriam para o almoço de Natal.

Atualmente eu passava tanto tempo na casa de Carina que sentia sua falta em qualquer segundo em que estivéssemos distantes, nisso, trocávamos mensagens dia e noite e ela sempre procurava um jeito de mandar uma foto ou um vídeo da filha fazendo uma coisa qualquer e eu mostrava para meus pais e irmã, que se derretiam.

"Ela é tão linda!" eles diziam, completamente emocionados no que eu sabia ser a sensação de que eu havia recuperado minha filha perdida.

Esse pensamento me incomodava. Não era como se eu tivesse perdido a criança por aí. Ela estava muito bem de vida com uma mãe que deu a ela tudo o que eu não podia dar e que é para ela tudo o que jamais poderia ser e eu estar entrando em sua vida era completamente aleatório.

De qualquer forma, saber que ela era minha filha em algum ponto desse universo paralelo já não me estressava tanto assim. Talvez fosse o tanto que me reconhecia nela ou nossa atual proximidade.

Que seja, era o bastante para eu deixar minha família dizer algo como "ah, olha esse jeito que ela desenha! Você fazia igualzinho quando tinha a idade dela!" e não me irritar com isso, até porque todas as crianças desenham da mesma forma quando tem três anos de idade, não?

Respirei fundo, me olhando no espelho e lembrando de minha tia-avó Guida na noite anterior, véspera de Natal.

-Não está na hora de você se ajeitar e encontrar um casamento? - ela perguntou e eu pensei "pronto, começou".

Era todo ano a mesma coisa, mas dessa vez meu pai orgulhosamente falou:

-Não sei do que está falando, Guida. Maya não está encalhada.

E foi a vez atirarem perguntas quanto aos meus relacionamentos e mamãe disparou em meio aos questionamentos:

-Gente, calma. Maya está se envolvendo com uma moça muito boa. Ela tem uma filhinha e tudo - agora quanto a quem ela se referia que tinha uma filha se eu ou Carina eu não saberia dizer.

Pronto. Silêncio na sala.

Voltei a comer meu pudim como se nada tivesse acontecido.

-Mas hein? - perguntou tia Guida, me cutucando no braço com sua bengala - uma mulher?

-Sim, tia Guida - suspirei - uma mulher com uma filha pequena.

-E o marido dela sabe que ela está se envolvendo nessa pouca vergonha?

-Ela é mãe solteira, tia. E não sei de que pouca vergonha está falando - retruquei.

Tia Guida bufou.

-Vocês, jovens, são tão modernos e estranhos - falou - achei que já tivesse passado da idade para essas coisas. E ainda por cima envolver uma criança nisso tudo? Ts-ts-ts.

-Eu acho bacana - disse minha prima Rosalía - um pulo e tanto, na verdade, esse negócio de mulher com filho e tudo. Mas se você gosta dela...

Deu de ombros e voltou sua atenção para o próprio pudim.

-Eu não encararia - disse meu primo Juan Luis - a menos que ela fosse bem gostosa. Mas só para uma ficada ou outra, claro.

-Você não pega nem dengue, Maluma - caçoou minha prima Jennifer, lhe dando um tapa na nuca.

With All My HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora