Capitulo 37

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Ainda perturbada com a conversa que tive com Carina no dia anterior, fui trabalhar com a cabeça nas nuvens e me condenando por isso, já que meu chefe estava na cidade e chegaria para vistoriar o trabalho naquele dia.

Suspirei, ainda preenchida por um vazio inexplicável.

-Onde está sua cabeça, Maya ? Eu estou falando com você há três horas!

A voz de Victoria me chamou a atenção e meus olhos focaram nela, que estava em pé do outro lado de minha mesa.

-Desculpe, Vic.O que dizia?

Ela se sentou a minha frente.

-O que está acontecendo?

Fiz uma careta.

-Tive uma discussão com Carina, nada demais.

-Quer falar sobre isso?

Suspirei, olhando para a mesa.

-Ela me deixou essas... coisas. Lembranças da vida de Dahlia. Mas eu não sinto que estou preparada para ve-las.

-Então não veja. Diga a ela que não está pronta.

-Ela sabe que não estou pronta. E não está cobrando que as veja.

-Então...?

-Tinha essa carta e ela estava com tanta raiva e tão magoada com o que fiz com ela...

Vic bufou.

-Tinha que ser muito santa ou muito insensível para não ficar. Foi injusto e sujo o que você fez com ela. Carina era só uma menina tendo sua primeira paixão, você tinha que ter tido a maturidade de não deixar que se envolvessem e ao invés disso você brincou com a inexperiência dela.

-Eu sei! - grunhi.

-Eu sei que foi sofrido para você também, Maya. Lembro ainda hoje de você chorando por ter dado o fora nela. Lembro da preocupação que senti quando vi que estava se envolvendo demais. Estava na cara que estava tudo muito errado, então não ache ruim que ela tenha sentido raiva ou qualquer mágoa por isso. Você não tem o direito de se ofender.

-Eu não estou ofendida.

-Então o que?

-Ela se culpava, Vic, por ter deixado acontecer.

-Em parte ela também tem culpa - a encarei, incrédula - o que? Ela se deixou envolver tanto quanto você.

-Credo - resmunguei.

Victoria cruzou os braços.

-O que você quer que eu diga? Estava tudo errado. Era, no mínimo, para vocês acabarem juntas. Mas se não aconteceu na época, faça acontecer agora.

-Eu estou fazendo. Só não me sinto pronta para encarar um passado que eu tanto me neguei em pensar.

-Você é uma frouxa - ela disse, torcendo o nariz - já está agindo como uma mãe, levando a menina para casa, e não quer enxergar.

-Está aí outra coisa que vem martelando na minha cabeça - suspirei - Carina disse que não preciso mais ficar com ela porque Amélia e Andy voltarão das férias e ela vai poder ficar com a menina depois da escola de novo.

Ela  ergueu uma sobrancelha.

-E você, que tanto renega a maternidade, não deveria estar contente?

Meu rosto se contorceu em uma careta.

-É que eu me sinto estranha. Já estava acostumada com ela lá em casa.

Vic bufou.

-Você se afeiçoou. Isso, minha cara, é seu espírito materno apontando. Mexa nessa droga de caixa. Você está pronta.

Abri a boca para responde-la, mas uma batida na porta me impediu.

-Entre - mandei.

A porta se abriu e meu lindíssimo chefe surgiu com um sorriso no rosto e sua pose de herói em seus cabelos escuros bem cortados, olhos azuis e músculos espremidos em suas roupas formais.

-Senhorita Bishop! - me cumprimentou Clark.

-Olá, Senhor Clark

-Senhor Clark - o cumprimentou Vic.

-Senhorita Hughes. É bom ve-las. Estavam ocupadas?

-Estava repassando com Maya o relatório que enviei ao senhor.

-Ah, sim. Estava belíssimo, Senhorita Hughes. Ótimos gráficos.

-O Senhor quer dar uma olhada nas produções? - perguntei.

-Claro!

Vic se levantou.

-Eu vou indo, tenho trabalho me esperando. Com licença, Maya, Senhor Clark.

Ela nos deixou e Clark ocupou a cadeira a minha frente. Virei o monitor do computador para que me acompanhasse e mostrei os últimos gráficos e realizações da empresa.

Uma coisa sobre Clark era que ele, apesar de rigoroso, era um bom chefe e sabia reconhecer quando as coisas estavam indo bem. Além disso, ele era justo e bondoso.

Ainda era grata por todo o tempo de férias que havia me dado no final da gravidez e tempo de resguardo, mesmo sabendo que eu não ficaria com o bebê.

Se tinha uma coisa da qual me orgulhava era de ter trabalhado duro para conquistar meu espaço naquela empresa e não ter deixado a oportunidade passar.

Querendo ou não, ainda sentia que não ter tido um filho foi a melhor escolha que poderia ter feito. Não me arrependo.

Tremi com o pensamento que de qualquer forma eu acabaria mãe daquela mesma criança.

-Isso está excelente, Senhorita Bishop - elogiou Clark - podemos visitar as escavações?

-Claro!

Descemos mantendo uma conversa ainda sobre os apontamentos da empresa. Eu tinha orgulho em dizer que os ótimos pontos vinham de meu trabalho árduo. Eu havia feito aquilo, honrado o nome da empresa com minha equipe.

-Johason, nós vamos descer - avisei ao homem que trabalhava na segurança das escavações.

-Sim, Senhorita - ele disse, trazendo os equipamentos de segurança.

-Talvez suje um pouco seu terno, Senhor Clark - avisei e ele sorriu de maneira bem humorada.

-Já estive muito aí embaixo, Senhorita Bishop. A poeira não me assusta.

Respirei fundo o ar fresco uma última vez e descemos.

Apertei as mãos para que não tremessem, mas ir para debaixo da terra sempre me afetava. Apontei a luz para as bases e apoios de madeira e expliquei como funcionavam.

-Sem rachaduras? - ele observou, girando a luz pelo ambiente fechado.

-Venho aqui constantemente garantir que nenhuma passe batido - garanti - a última que tivemos foi antes da troca de equipes e fechou ao menos cinco galerias permanentemente.

-Está falando da que foi provocada pelo descumprimento de ordens?

-Sim, senhor.

-Certo. Vamos sair daqui. Estou bastante satisfeito com seu trabalho, Senhorita Bishop.

-Obrigada, Senhor Clark.

Subimos e sacudimos a poeira da roupa.

-Excelente - ele disse, mirando logo em seguida algo atrás de mim - Ah, Senhor Klingberg, venha aqui. Quero lhe apresentar Maya Bishop , minha melhor líder.

Me virei para ver com quem Clark falava e então todo meu lisonjeio murchou com um balão, meu coração errando uma batida.

Lá vinha ele. Alto. Forte. Grande sorriso no rosto que falhou ligeiramente junto a um franzir de cenho de quem me reconhecia, mas não sabia de onde. Só que eu me lembrava, ao menos olhando assim, novamente, eu lembrava de toda minha estupidez que me levou até onde estava.

-John.

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