Não se cobre tanto!

619 93 47
                                    

POV RAFA

Sai da festa praticamente arrastada por Caon, ele segurava minha mão com força e eu tentava a todo custo me soltar.

-Você está me machucando, Caon. – Ele fingia não ouvir. – Me solta, você está bêbado!

-Anda Rafaella, vamos pra casa. – Ele destravando o carro.

-NÃO VOU PRA SUA CASA! – Gritei e ele parecia irritado.  – Me leve para a minha casa!

-Amor, pare de drama. – Ele abriu a porta do carro e esperou que eu entrasse. – Vamos pra minha casa, e chega de discussão.

Entrei no carro contrariada, algumas pessoas que estavam na saída da festa já nos olhavam de forma curiosa. Eu fiquei muito irritada com esse show de Daniel,  e nós conversariamos, quando ele estivesse sóbrio.

Chegamos em seu apartamento e ele logo veio pra cima me pedindo desculpas e que não fariam mais aquilo, eu sentei em sua cama e suspirei cansada, Caon sempre dava algum chilique e depois vinha com algumas desculpas esfarrapadas.

-Daniel, me leva pra casa. – Eu disse tentando não chorar. – Eu não quero ficar aqui.

-Claro que não, você vai dormir comigo. – Ele se aproximou e beijou meus cabelos. – Podemos namorar um pouco.

-Eu não quero, eu quero ir pra minha casa. – Falei o encarando.

-Isso tudo porque te tirei daquela festa de gente estranha? – Ele disse de forma debochada. – Qual é Rafaella, você é mais inteligente que isso! Se quer ser alguém de respeito não devia andar com esse povo.

-São meus amigos! – Falei pegando minhas coisas.

-Amigos? Se toca Rafaella, você acha que quando descobrirem que você não tem grana eles vão querer sua amizade. – Ele disse aquilo e eu senti nojo dele.

-Você é um grande babaca. – Peguei minhas coisas e fui em direção a porta, mas ele foi mais rapido.

-Onde você vai? – Ele segurou meu braço.

-Pra longe de você. – Me soltei dele e abri a porta. – Acabou tudo, não me procure mais.

Desci pelas escadas e pude ver ele chamar pelo meu nome. Eu já devia ter feito isso a muito tempo, Manu, Eusebio, minha mãe, ninguem nunca gostou desse namoro e agora eu entendia o motivo, Caon era um idiota. Dei sinal para o primeiro táxi que passou e dei o endereço da minha casa, custaria uma pequena fortuna, mas eu só queria o conforto da minha cama.

O domingo passou muito rápido, e eu passei o dia deitada. Eusébio e Manu me ligaram para saber onde eu havia me metido e eu contei o que tinha acontecido e ambos comemoraram o fim do meu namoro.  Caon me ligou o dia inteiro e eu apenas o ignorei, não quero falar com ele, não hoje, talvez nunca mais.

Fiquei pensando nas palavras dele, sobre eu não ter dinheiro, sobre meus amigos serem ricos e eu não. Não tenho vergonha das minhas origens, nunca tive. Minha família vem do interior de Minas Gerais, sempre fomos muito humildes, mas nunca nos faltou amor. Mas eu quero vencer na vida, quero dar luxo pra minha mãe, quero ajudar meu irmão, e se pra isso eu preciso continuar escondendo minha vida financeira, eu farei isso.

-Filha, acabei de voltar da igreja. – Minha mãe entrou em meu quarto. – Pedi pra Deus abrir os caminhos daquela mulher e que ela te contrate como estagiária.

-Obrigada mãe. – Minha mãe me abraçou e eu sorri.

-Eu sei que vai dar certo filha, eu tenho fé. – Sorri de lado. – Meu bem , não fique abatida desse jeito, você passou o dia todo trancada nesse quarto, aquele menino nunca te mereceu.

-Eu sei mãe. – Suspirei e me sentei na cama. – Não estou assim por ele. Eu não gosto de ver a senhora trabalhando tanto, eu sou tão grata por ter a senhora.

-E eu sou grata por ter você e seu irmão ao meu lado. – Minha mãe beijou o topo da minha cabeça. – Agora vem jantar um pouco.

Acompanhei minha mãe até a cozinha e ficamos batendo papo até altas horas, Renato também jantou conosco e fomos dormir quando já era bem tarde. Consequentemente perdi a hora e minha mãe também, pois ela não me acordou como fazia todos os dias. Me levantei correndo e encontrei um bilhete na minha mesinha de cabeceira.

"Filha, não se cobre tanto! Tire o dia de hoje pra você, a mamãe irá conversar com Tassiano e explicarei sua falta. A mamãe te ama e sempre irei lhe proteger." - Com amor mamãe Gê!

Sorri com o bilhete e me joguei na cama novamente, hoje eu iria tirar o dia pra mim. Eu merecia, até iria tentar terminar o vestido em que eu estava trabalhando.

A terça amanheceu quente e antes da minha mãe me chamar eu já estava pronta. Ontem pelo visto a faculdade pegou fogo, minha mãe me contou que a novata rolou no tapa com Tássia e Flay e que todas foram suspensas, Eusébio tinha me ligado contando, mas não sabia de muitos detalhes.

-Fiquei com dó da Gi. – Minha mãe e eu tomavamos café antes de sair. – Ela está com tanto medo.

Estranhei o fato da minha mãe estar tão próxima dessa novata, e provavelmente ela seria expulsa, ela é louca de caçar briga com Tássia, sendo bolsista.

-Ninguém mandou ela arranjar briga, né? – Dei os ombros e me servi de café.

-Mas ninguém merece aquela Tássia e Flay. – Tinha que concordar. – Foi maravilhoso ver a Gi dando na fuça dela.

Minha mãe gargalhava me contando da briga e eu ria junto. Pelo menos a novata serviu pra isso. Me lembrei da noite da festa em que ela foi até onde Daniel e eu estávamos e o afrontou, ela gostava de se impor e isso deixava ela intrigante.

Estranhei meu pensamento e ouvi minha mãe se despedindo, ela sempre ia na frente, pois ia de ônibus e eu esperava pela carona de Manoella. 

Em poucos minutos o carro de Manu estacionava em frente a universidade e uma grande aglomeração estava formada na entrada. Nos aproximamos e vi a novata de braços cruzados e cabeça baixa ao lado de nada mais que Malvina Bicalho, e a mulher soltava fogo pelas ventas.





___________________________________________________________

Eita, talvez eu volte hoje!

Without meOnde histórias criam vida. Descubra agora