Gizelly Bicalho

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Março de 2015 - São Paulo

POV GIZELLY

-Gizelly, vamos nos atrasar. – Malvina entrou em meu quarto como um furacão. – Temos que estar na universidade às 7:00.

-Eu já disse que não vou. – Me virei para o outro lado e cobri meu rosto.

-Eu não te dei essa opção, ou você levanta ou eu aviso o seu pai que suas férias também serão comigo. — Bufei irritada e joguei o edredom no chão, minha mãe consegue me tirar do sério.

-O combinado não era esse, mãe! Eu já disse que quero fazer o vestibular, como todo. – Me sentei na cama e passei a mão no rosto.

-Você não é todo mundo. –Ela disse com sua pose impecável. – Não invisto naquele lugar atoa, minha filha não precisa de vestibular para estudar onde eu quero.

Revirei os olhos e balancei a cabeça, não estava com muita paciência, por isso resolvi ceder aos caprichos dela.

-Vou te dar 30 minutos para se arrumar, e pelo amor de Deus, se vista como alguém decente. – Malvina saiu do quarto e me levantei para o banheiro.

Entrei no chuveiro e comecei a pensar na minha vida e em como eu queria que ela fosse diferente. Desde que meu pai se separou da minha mãe, minha vida desandou, tudo ficou ainda mais difícil pra mim e eu não vejo a hora de completar minha maior idade e poder tomar minhas próprias decisões. Não culpo meu pai por ter saído de casa, mas ele bem que podia ter me levado, se ele não aguentou minha mãe, imagina eu.

Sou Gizelly Bicalho Abreu, tenho 17 anos e sou filha da ilustre Malvina Bicalho, isso mesmo a famosa Malvina, que por onde passa gera arrepios até em seus ancestrais, tenho certeza que Miranda Priestly teria medo da minha mãe! Mas nem sempre foi assim, quando meu pai estava em casa, minha mãe agia como uma mãe normal, até mesmo um pouco carinhosa, mas tudo desandou quando meu pai pediu o divorcio e se mudou para Londres com minha madrasta. Minha mãe se tornou uma pessoa insuportável desde então e quem sofre com isso sou eu, todas as frustrações dela, ela resolveu projetar em mim.

Desliguei o chuveiro e tratei de me arrumar logo, ou era capaz dela subir e me arrastar pelos cabelos até a bendita universidade. Isso era outra coisa que estava me desanimando, eu nunca quis estudar moda, nunca me interessei pelos negócios da minha mãe, meu sonho era cursar direito, igual ao meu pai, mas depois que ele se mudou, minha mãe exigiu que eu estudasse na mesma universidade que ela estudou, alegando que eu precisava herdar todo o seu império, foram inúmeras brigas, chantagens, até que eu não aguentei mais e acabei cedendo, e hoje é o meu primeiro dia, depois de ter voltado de Londres e perdido quase dois meses de aulas.

-Eu disse que era pra você se arrumar. – Minha mãe me olhou por cima do jornal logo quando me sentei.

-Eu estou arrumada ue. – Dei os ombros e a Cláudia me serviu o café. – Estou indo pra aula, não para o SPFW.

-Jeans e camiseta Gizelly? – Ela perguntou indignada. –Você é uma versão feminina e mais rebelde do seu pai.

-Então significa que estou no caminho certo, eu não queria que me comparassem a você. – Respondi rude e ela abaixou o jornal.

-Cada vez que você fala algo assim, meu coração corta. – Ela dizia de forma dramática e eu revirei os olhos. – Várias garotas dariam tudo para ser minha filha.

-Adota alguma delas e me deixa em paz, então. – Peguei minha mochila e me levantei. – Te espero no carro Malvina!

Sai sem deixar ela responder, minha cabeça já estava cheia demais pra começar uma discussão logo pela manhã, entrei no carro e cumprimentei Ramires o motorista, coloquei meus fones e seguimos para a universidade sem dar uma palavra sequer.

Em poucos minutos Ramires estacionava em frente ao grande capus e eu suspirei antes de encarar minha nova realidade. O lugar era bem descolado, várias pessoas diferentes, alguns muito bem vestidos, outros mais casuais, porém todos com o mesmo perfil das pessoas que trabalham para minha mãe, ou seja, nada ali se enquadra em mim.

Minha mãe entrou e nem ao menos precisou ser enunciada, as pessoas pareciam até ter medo de respirar perto dela, sorri de lado e a segui até a sala do reitor.

-Malvina, que bom vê-la logo pela manhã. – Um homem vestindo um terno justo estendeu a mão e minha mãe se quer deu o trabalho de retribuir.

-Oi Taciano, apenas vim trazer minha filha para o primeiro dia dela. – O homem apenas acenou com a cabeça e ofereceu a cadeira.

-Já está tudo encaminhado, a Gizelly já começa hoje. – Ele me entregou alguns papéis onde estavam meus horários de aulas. – Sua primeira aula é de historia da arte com a professora Silvia.

-Obrigada Sr. Taciano. – Agradeci e o homem pareceu surpreso. - Já posso ir?

-Claro Gizelly, e seja bem vinda à nossa universidade. – O homem me estendeu a mão e eu me levantei.

-Filha, te espero no atelier, mandarei o Ramires vir te buscar. – Minha mãe dizia e eu revirava os olhos.

-Eu já disse que não vou para o atelier. – Peguei minha mochila e joguei no ombro. – O combinado era vir pra faculdade.

-Gizelly, isso não é uma negociação. – Minha mãe me segurou pelo braço. – Para de tentar ser igual ao seu pai.

-Eu não vejo a hora de me livrar de você, Malvina. – Puxei meu braço com força e sai da sala como um furacão.

-GIZELLY, EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ.

Pude ouvir o grito da minha mãe do corredor, mas nem me dei o trabalho de me virar, sai apressadamente e nem conseguir me desculpar com a moça que se esbarrou comigo no caminho.

Fui até o banheiro e deixei algumas lágrimas cair, eu estava triste, e eu só queria o abraço do meu pai, não vejo a hora de poder ir morar com ele, sem ter minha mãe por perto. Depois de um tempinho tentando me recompor em uma das cabines, resolvi lavar o rosto e encarar minha nova realidade. Abri a torneira e passei uma água no rosto.

-Está tudo bem mocinha? – Uma senhora sorridente me encarou pelo espelho.

-Não, mas eu espero que fique. – Tentei retribuir o sorriso, mas não saiu. – Obrigada por perguntar.

-Nunca te vi por aqui, é o seu primeiro dia? – Ela passava pano no chão.

-É sim, infelizmente. – Dei os ombros e peguei minha mochila.

-Hey, tudo se ajeita depois, não sei o que está se passando com você, mas pode ter certeza de que tudo fica bem no final. – Ela se apoiou no rodo e me encarou. – E se não se encaixar, pode vir aqui no banheiro desabafar comigo.

-Obrigada, de verdade. – Fui até ela e deixei um beijo em seu rosto, mesmo sem conhecer a mulher.

Sai do banheiro e fui procurar pela minha sala, eu já estava atrasada, mas eu pediria desculpas para a professora depois. 

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Os pais da menina Gi são ficticios ok? 

Tô empolgada com a Fic, alguém me segura pra não postar tudo que tenho pronto de uma vez só!!!

Without meOnde histórias criam vida. Descubra agora