Capítulo 25

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Aeleva não conseguiu prestar atenção em nada que Rhysand disse.

Lolla a encarou do outro lado da sala durante toda a reunião, despreocupadamente largada em uma poltrona, os pés cruzados sobre o braço do estofado. Ela, não. Encarava as lâminas presas à bainha que Azriel lhe comprara, presa firmemente em suas coxas, uma Gêmea de Esparta em cada perna. Seu olhar estava perdido, e mesmo que Aeleva a encarasse de volta, não conseguiu sua atenção. Ao lado de Lolla estivera Feyre, os braços cruzados sobre o peito, os olhos vagando entre as lâminas de Aeleva e Azriel. A visão não pareceu agrada-la nem um pouco.

Rhysand e Feyre seguraram Cassian e Azriel assim que Rhysand declarou a reunião como encerrada. Aeleva, não querendo ouvir mais uma única palavra a respeito do ataque de Durendal às terras humanas, saiu do escritório tão logo o Grão-Senhor os dispensou.

— Belas espadinhas — disse uma vozinha melodiosa às suas costas, e Aeleva enrijeceu o corpo ao reconhecer Lolla.

— São gládios — Aeleva não diminuiu o passo ao respondê-la, torcendo para que a loira não a seguisse até o ringue de treino.

Ouviu Lolla estalar a língua.

Ah, eu sei o que são.

— Eu sei que sabe. — Respondeu, sem sequer olhar para trás. Lolla conhecia Abaddos tanto quanto ela, e se ver as lâminas foi o suficiente para cutucar a memória de Aeleva, ela podia imaginar que tipo de lembranças trazia à Lolla.

Lolla emparelhou-se com ela com um saltitar.

— As Gêmeas de Esparta — cantarolou ela —, estava com elas esse tempo todo?

— Não.

— Hm — Aeleva se perguntou se Lolla não a pararia de seguir, mas a irmã permaneceu acompanhando seu passo conforme passavam pela sala de estar em direção à área externa — Então onde as conseguiu?

— Na oficina.

— Estão cegas. Que ferreiro de merda.

Aeleva parou de andar, e Lolla parou com ela, um sorrisinho irritante no rosto e as sobrancelhas arqueadas com aquele desdém que lhe tirava a paciência.

— São relíquias — rebateu Aeleva, seca e irritada —, ele as manteve guardadas.

Lolla riu desdenhosamente, jogando a cabeça para trás.

— Claro que são relíquias — respondeu, balançando a cabeça enquanto ria —, estavam só esperando por você, não estavam? — Lolla suspirou, colocando as mãos na cintura — Vou ter que ensinar você a afia-las ou precisa da autorização da sua dona?

Aeleva trincou os dentes.

— Não preciso de nada de você ou de ninguém.

Foi a segunda vez que Aeleva viu os olhos de Lolla faiscarem daquela forma para ela, aquele calor envolvendo seu corpo e parecendo queimar suas sobrancelhas. Dessa vez, Aeleva pôde sentir de onde ele veio — paradas próximas à porta de vidro, o sol do lado de fora pareceu alcança-las, trazido pelo poder de Lolla.

— Exceto que precisa, sim. Porque sua luta é desesperada e irresponsável, suas espadas não cortam nem frutas e a porra de sua cabeça está tão oca quanto uma concha.

Aeleva deixou que a raiva alcançasse seus olhos também.

— O que você quer?

Lolla a observou por um instante dos pés a cabeça, mas Aeleva não cedeu ou se encolheu como havia feito aquela manhã. Deuses, ela estava tão irritada com Lolla. Com tudo, na realidade. A última coisa que ela precisava era da única pessoa que conseguia se lembrar tratando-a como uma decepção.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora