Aeleva acordou em meio à escuridão.
Não fazia ideia se já havia amanhecido, ou se ainda era madrugada. Tudo o que conseguia ver era a escuridão, e sentiu o coração acelerar com o medo que lhe subiu pela espinha ao, dentro daqueles curtos instantes de inconsciência matinal, não saber onde estava. Então dedos ásperos roçaram seu braço nu, e Aeleva inspirou o cheiro de névoa e madeira de cedro, sentiu o calor que a envolvia de todos os lados, e sentiu o peito se acalmar. A pele macia do peitoral do Azriel aconchegava seu rosto.
— Bom dia, Eva — a voz áspera e rouca de sono de Azriel sussurrou, como um murmúrio preguiçoso.
Talvez ele soubesse que Aeleva precisava ouvir o som de sua voz, saber que se tratava dele ali. Aeleva se remexeu, perdida no breu entre as asas e o corpo largo do Encantador de Sombras, e, lentamente, uma asa recuou para baixo até que o rosto de Aeleva estivesse descoberto.
— Bom dia — ela respondeu, ainda de olhos fechados. Não se lembrava de uma única noite em que tivesse acordado e se sentido tão confortável, sem aquela urgência de se levantar e começar o dia.
Demorou até que o pesadelo retornasse à sua mente, mas, mais uma vez, Azriel impediu que sua mente devaneasse.
— Como está se sentindo? — mais um roçar de dedos em seu braço. Um carinho.
Aeleva levantou o olhar lento para ele. Notou que as cortinas do quarto de Azriel eram grossas o suficiente para barrar a entrada de boa parte da luz do dia, então não levou praticamente tempo nenhum para acostumar os olhos ao ambiente penumbroso.
O olhar do Encantador de Sombras encontrou o dela — a expressão preguiçosa, os olhos caídos de sono, os cabelos despenteados. Aeleva se lembrava da última vez que Azriel tentara acalma-la com suas asas, durante um de seus pesadelos na Corte Diurna. Na ocasião, ela havia gritado e ordenado a Azriel que a soltasse. Agora, pouco mais de cinco meses depois, a situação não poderia ser mais diferente. Poderia passar o dia todo ali, sob o calor de seu único amigo. A forma como haviam se tornado tão íntimos em tão pouco tempo...
Deuses, Aeleva faria qualquer coisa por ele, da mesma forma que sabia que a recíproca também era verdadeira. Talvez não quando se tratava de sua parceira, porque Aeleva entendia que Azriel sempre daria preferência a Elain Archeron depois e ter descoberto sobre o laço, mas não havia uma maldita pessoa ou coisa que pudesse tirar isso dos dois — a intimidade que desenvolveram. Como uma amizade de outras vidas. Como se os deuses tivessem colocado Azriel ali, num momento em que eles sabiam que ele seria necessário para Aeleva.
— Estou — ela não permitiu que as memórias de seu pesadelo viessem até sua mente. As palavras que Abaddos dissera.
Não se esqueça que tenho a terceira. Me diga onde estão as outras duas.
Aeleva não sabia sobre o que ele falava, e mesmo as ideias que surgiam em sua mente... Mais tarde. Aeleva pensaria naquilo mais tarde.
A ponta do nariz de Azriel recostou contra sua testa, os lábios tocando levemente o espaço entre suas sobrancelhas. Aeleva sabia que, se pudesse ver seu rosto, Azriel estaria de olhos fechados, desejando ainda estar dormindo.
— Não acredito que peguei no sono aqui — um bocejo enquanto ela se preparava para levantar — a culpa é toda sua.
— Minha? — o hálito morno de Azriel tocou sua pele, a voz escondendo uma risada. Ela ficou tentada a fechar os olhos de novo.
— Sim. Tão entediante que me fez dormir.
Azriel enrijeceu, a mão que carinhosamente deslizava por seu braço parou, indo até seu queixo para força-la a olhar para ele. Aeleva estaria mentindo se dissesse que não havia gostado da forma ríspida como seus dedos se contraíram em seu rosto. Eles se encararam, e Aeleva não fazia ideia que diabos era aquilo nos olhos do mestre-espião, algo que pareceu devora-la.
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Corte de Sombras e Tempestades
FanficAeleva tinha um segredo, mas não conseguia se lembrar. Após anos mantida cativa em um dos territórios de Hybern, Aeleva foi finalmente libertada por um Grão-Senhor que alegava precisar de sua ajuda. Sem sequer se lembrar do próprio nome, ou dos mot...