Capítulo 23

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Ver Aeleva cercada por armas era uma visão divina.

Azriel recostou-se contra a porta fechada da oficina, poucos instantes após pedir ao ferreiro que não permitisse a entrada de mais ninguém enquanto Aeleva estivesse lá. Ele não queria arriscar. A fêmea era excepcional para esconder suas emoções, mas o talento de Azriel para le-la estava lentamente se desenvolvendo. E seus olhos brilhavam com fúria quando sentia medo, fúria maior do que a que estava acostumado a ver em seus olhos.

Preferiu não arriscar. E não tinha nada a ver com o risco de Aeleva aterrorizar a cidade, mas da cidade aterrorizar Aeleva. Já era um grande passo ela ter aceitado sair da Casa do Vento, e era como se Azriel pudesse ler os pensamentos da fêmea — um passo de cada vez.

Qualquer desconforto sumiu de seu corpo quando o ferreiro abriu a porta para eles, e foram invadidos pelo calor das forjas e o brilho das lâminas.

Aeleva parecia estar em casa.

Azriel não conseguiu despregar os olhos da fêmea — em como seus ombros relaxaram e a boca se abriu impressionada. O fundo alaranjado pelo fogo das fornalhas desenhavam sua silhueta, tornando-a quase como um reflexo das chamas. Saída de um de seus piores pesadelos, tão perigosa que beirava a estupidez estar na mesma sala que ela. Mas Azriel não conseguiria sair nem se quisesse. Aeleva e o poder e o misticismo que a envolviam tinham toda sua atenção. A forma como todo o ambiente parecia dobrar-se à sua vontade.

Aeleva olhou para as lâminas expostas pela parede, e por um instante todos os pelos de Azriel se arrepiaram. Sentiu a mudança na atmosfera, e quando o cheiro de medo do ferreiro o alcançou, ele soube que não foi o único. Pensou em acalma-lo, mas sabia que seria inútil. Seria impossível não sentir medo quando Aeleva estava ali parada, observando as armas com tanta admiração, parecendo uma maldita deusa de tudo o que era mais perigoso.

Filha dos céus, suas sombras disseram, nossa sagrada Aeleva.

Semideusa, ele se lembrou. É claro que ela era.

Ela olhou para o ferreiro, e, mesmo de longe, Azriel viu-o estremecer.

— Quero uma espada de dois gumes — Aeleva disse sobre o ombro —, o senhor tem?

O ferreiro olhou para Azriel entes de assentir.

— Tenho — respondeu ele, um pouco hesitante — No depósito. Venha comigo.

Aeleva assentiu, e Azriel desencostou-se da porta para acompanha-los. Passaram por um corredor estreito e quente, mal iluminado pelo fogaréu de onde saíram. Enquanto andavam, perguntou-se se Feyre ou Rhys já haviam percebido que os dois não estavam em casa. Ele provavelmente ouviria mais tarde. Ou em breve, em sua cabeça. Checou os escudos mentais, porque realmente não queria ser atrapalhado por seus Grão-Senhores àquela tarde.

Alcançaram um salão mais limpo, repleto de prateleiras e iluminado por uma claraboia. O sol estava forte naquele dia, e Azriel lançou um olhar curto para se certificar de que Aeleva estava bem com aquilo, mas a atenção da fêmea não estava nele. De fato, era um depósito impressionante. Havia ainda mais armas expostas nas prateleiras do que havia nas paredes das forjas. No ambiente claro, as lâminas reluziam de verdade. Ele, Cassian e Rhys costumavam comprar suas armas ali — era, com toda certeza, o melhor ferreiro de Velaris. Talvez de Prythian. Perdia, no máximo, para o ferreiro que fazia armas para os illyrianos. Mas as armas de guerra de Illyria não eram nada refinadas como aquelas que se vendiam em Velaris.

O ferreiro remexeu em algumas caixas, e Aeleva não despregou os olhos dele. Seu polegar roçava os calos da própria mão, fazendo Azriel se entreter imaginando os possíveis pensamentos da fêmea. Quantos punhais de espadas já deviam ter passado por aqueles dedos? Suas mãos eram tão pequenas, como podia equilibrar uma arma tão agressiva quanto uma espada de dois gumes? Uma arma grande para alguém miúdo, mas, ele imaginava, não quando se tinha força nos lugares certos. Aeleva começava a ganha-la.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora