Capítulo 42

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Merda.

Remexendo-se pela milésima vez na cama, Azriel tentou repassar mais uma vez todos os acontecimentos daquela noite. Aeleva desaparecendo de sua tenda, derrubando 3 machos, caindo no fundo de um riacho semi-congelado, entrando na banheira... Irritando-o a ponto dele desejar que ela apenas calasse aquela maldita boca...

Tenho certeza que tem muitas ideias para me fazer calar.

Merda.

Azriel se remexeu de novo, duro feito pedra pela milésima primeira vez, o pau latejando. Já tinha tomado um longo banho frio, mas, àquela altura, Azriel poderia se lançar no riacho das estepes com duas rochas amarradas nos pés e ainda assim não adiantaria nada. Ele continuaria ouvindo os gemidos baixinhos de Aeleva, ainda teria a sensação do seu cabelo entre os dedos. Ainda teria a maldita imagem daqueles olhos tempestuosos olhando-o como se implorasse para que ele a tomasse para si. Teria o cheiro da excitação da fêmea impregnado em seu nariz.

Então, quando a mente de Azriel ia longe demais nas fantasias, a lembrança de Aeleva estremecendo quando ele chegou um pouco perto demais o estilhaçava por completo. Azriel sabia o quanto Aeleva havia sofrido nas mãos de machos como ele naquela Prisão. O quanto ela tinha medo, talvez a única coisa no mundo que a assustasse. E ele sentia tanta raiva que, quando fechou a porta daquele quarto, precisou de todo seu controle para não sair dali e ir direto à Prisão da Ilha, derrubar pedra por pedra, encharca-la de sangue. Teria ido. Mas, no fundo, sabia que esse direito — a vida de todos aqueles machos — pertencia a ela. Aeleva iria mata-los. Se Azriel fosse sortudo o suficiente, ela o chamaria para ajuda-la.

O fato dele não ter se tocado disso antes, de te-la agarrado forte demais e sido tão...

Vergonha tomava conta dele de minuto em minuto, tanta que ele precisava enterrar a cabeça no travesseiro e respirar fundo. Estúpido. Como ele pode fazer aquelas coisas com ela? Não era como se ele não soubesse. Não era como se o corpo inteiro de Aeleva não fosse coberto de cicatrizes para lembra-lo.

Raiva e desejo mantiveram-no acordado madrugada adentro. Pelo Caldeirão. Azriel não tinha certeza de algum dia se recuperaria daquela noite. Ele não se permitia pensar no significado de nada daquilo. Queria esquecer o olhar dela sobre ele, e o calor que ela emanava, e o desejo dela de te-lo. Esquecer a forma que suas mãos se engancharam em sua nuca, e o gosto de seu pescoço. O gosto de sua pele. Azriel nunca tinha provado algo tão bom quanto aquilo.

Aeleva. Aeleva. Aeleva. Aeleva. Aeleva. Aeleva. O nome da fêmea ressoando em sua cabeça não o deixava dormir. Ele a queria tanto que doía. Faltava-lhe o ar. Não sabia o que teria feito se algo tivesse acontecido a ela naquelas estepes, e não conseguia colocar em palavras a dor que sentia quando se lembrava de que ela jamais seria dele. Odiava-se por tudo o que falara para ela antes de se dar conta dos próprios sentimentos. Sequer conseguia se lembrar de como era ter sentimentos por outra pessoa.

E pensar que ele queria uma parceira. De que adiantaria uma parceira se ela não fosse Aeleva?

Se Azriel nunca tivesse contado a Aeleva sobre Elain, talvez a resposta da fêmea na noite do baile de Nestha tivesse sido diferente. Azriel fantasiava sobre isso, sozinho, no silêncio da noite. Quando se dava prazer imaginando os sons que sairiam da boca de Aeleva naquele telhado se ela o amasse de volta. Talvez tudo fosse diferente se ele tivesse mantido a porra da boca calada.

Os pensamentos de Aeleva a seu respeito não poderiam estar mais errados. Azriel tinha, sim, amado Mor. Ainda a amava como parte de sua família. Tinha, sim, desejado Elain. Mas absolutamente nada se comparava ao que ele sentia agora.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora