Capítulo 4

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Aeleva.

Ela sabia que todos estavam falando, que a reunião já havia começado e que provavelmente deveria estar prestando atenção. Mas tudo o que passava por sua cabeça era seu nome.

Aeleva. Aeleva. Aeleva.

Aeleva? — Chamou Rhysand. — Você ouviu?

Aeleva ergueu o olhar para ele. Não havia percebido que estava encarando as próprias mãos. Havia uma cicatriz feia que ia do polegar até o pulso, e a palma esquerda tinha cortes diagonais que a atravessavam com marcas em alto relevo. Eram mãos horrorosas. Mãos de besta.

— Huh?

Cassian riu, e recebeu um tapa no braço de Nestha.

— Perguntei se conseguiu se lembrar de algo a respeito de Durendal. — Repetiu Rhysand. Ele tinha ficado particularmente aliviado quando Aeleva revelou que se lembrava de seu nome, e só podia imaginar que ele pensou que a lembrança teria vindo com outras.

Infelizmente, não. Mas não importava, ela sabia seu nome.

Balançou a cabeça.

— Estamos falando de um semideus vivo há mais de mil anos — disse Nestha, cujas mãos brincavam com a nuca de Cassian —, como uma humana saberia qualquer coisa dele?

Aeleva não gostou de seu tom, e não conseguiu evitar de olhar para ela do outro lado do escritório. Seu olhar atraiu o olhar de Nestha e as duas se encararam por um momento.

Nestha era alguém poderosa, mas Aeleva era um monstro enjaulado.

— Ela não é humana, menina. — Foi Amren quem respondeu, e sua voz parecia algo antigo.

Aeleva ergueu as sobrancelhas.

— Não sou?

Todos olharam para Amren com a mesma pergunta no rosto, até mesmo Azriel, cuja expressão parecia pedra. Amren olhou para Aeleva por um instante, os dedos cheios de anéis tamborilando no braço da poltrona. Julgando pela forma que seus lábios crisparam quase imperceptivelmente, ela ponderava suas suposições e quais delas valiam a pena de ser mencionadas.

Por fim, Amren apenas disse:

— Uma humana não sobreviveria uma semana sequer em uma prisão como aquela. — E algo sobre sua postura dizia que ela sabia muito bem do que estava falando.

— Além disso — acrescentou Rhysand, virando-se de Amren para Nestha —, nenhuma humana teria as defesas que ela tem. Acredito que nem feéricos poderiam.

— Defesas? — Perguntou Cassian.

Feyre olhou para Aeleva como se perguntasse se poderia falar, e Aeleva apenas deu de ombros.

— As defesas mentais de Aeleva são um labirinto. — Explicou Feyre — Um labirinto vivo.

— Por isso não encontraram nada em suas memórias? — Perguntou Azriel, e sua voz atraiu novamente a atenção de Aeleva. Seus olhos percorreram as sombras que o envolviam e desceram para a adaga que pendia na bainha ao lado de seu corpo. Ele era um tanto sombrio e definitivamente perigoso. O que será que as sombras faziam ao redor dele? Imaginou como seria toca-las. Seria como tocar o vento?

— Sequer consegui alcançar suas memórias — respondeu Rhysand. — E é por isso que precisamos ensina-la a baixar suas defesas.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora