Capítulo 17

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Aeleva estava em um campo de batalha. Havia uma lança em uma das mãos, de cuja ponta afiada pingava sangue, e uma faca de curto alcance em outra. Sentia a adrenalina em seu peito conforme corria por corredores estreitos e escuros, ciente de que estava abandonando a luta principal e indo atrás de alguém. Seu corpo doía com alguns ferimentos, e podia ouvir o som da batalha sendo travada a muito longe agora, mas não havia nada que podia fazer.

Lolla surgiu de repente ao seu lado, e seu coração errou uma batida ao notar seus cabelos loiros cobertos de sangue. Segurava um arco e flecha parcialmente armado, e havia um certo brilho ao seu redor, sendo emitido de seu corpo enquanto se esforçava para acompanhar o ritmo acelerado de Aeleva.

— Que lugarzinho de merda, Eva — Lolla ofegou, e parecia tão exausta quanto ela — Não vou aguentar muito tempo.

— Não pedi que viesse — diante a uma bifurcação, Aeleva não hesitou antes de virar à esquerda, ainda que não estivesse certa para onde ele havia ido. Lolla, por sua vez, fez uma pausa diante ao cruzamento, e pareceu ponderar se deveriam se separar até decidir segui-la.

— Ah, vá se lascar — xingou Lolla, limpando o sangue que escorria de uma de suas têmporas —, não estou afim de virar comida de Harpia, muito menos de apodrecer sozinha aqui nesse buraco.

Ouviu-se um barulho horrível a frente delas, e foi o que fez Aeleva freiar bruscamente. Lolla também parou, apoiando-se no joelho para recuperar o fôlego.

— Ótimo. Chegamos ao Mundo Inferior, posso ouvir as almas sendo torturadas — Lolla colocou as mãos na cintura — Ou essa era você tentando cantar?

— Fique quieta, Lolla.

Lolla bufou.

— Vamos sair logo daqui, por que você quer tanto morrer?

Aeleva ignorou, levantando um dedo sobre a boca para pedir por silêncio.

— Estamos indo pelo caminho errado.

— Ah, estava com saudades de concordar com você! — Lolla jogou as mãos para cima — Não é uma merd...

O som a seguir foi seguido de uma explosão. Aeleva foi lançada contra a parede de pedra, com tanta força que o corpo todo rangeu. Desesperada, procurou por Lolla antes mesmo de encontrar com o chão. Seu corpo gritou, e ela viu, no meio da poeira e do fogo, as criaturas que as perseguiam.

Piscou, tentando afastar a tontura, sentindo o sangue escorrer pelo rosto. Suas coxas queimaram, quentes, e ela sabia que havia estilhaços enfiados em sua perna. Não se importou. Precisava encontrar Lolla e tira-las dali.

— Levante-se — disse Aeleva, puxando Lolla do chão, o coração pesando uma tonelada com medo de não haver resposta. Mas a loira, lentamente, colocou-se em pé, apoiando-se em Aeleva.

Sem precisar trocar qualquer palavra, as duas dispararam, apoiadas uma na outra, corredor adiante.

De alguma forma, Aeleva sabia que seus poderes e os de Lolla eram inúteis ali. Era quase impossível convoca-los, especialmente na situação que estavam, exaustas e machucadas. Cada passo era uma onda de tortura por seu corpo, sua visão
ficava cada vez mais escura.

Os grunhidos das harpias ficavam cada vez mais altos. Aeleva sabia que não estavam sozinhas — que trabalhavam para alguém. E qualquer que fosse o poder que aquelas criaturas ganharam com a aliança feita...

Não importava. Aeleva e Lolla eram mais fortes. Só precisavam sair dali.

Elas viram a luz no final do corredor, e de alguma forma Aeleva conseguiu apertar o passo, trincando os dentes para não ceder diante da dor. Precisava sobreviver. Precisava encontrar alguém. Precisava se redimir.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora