Capítulo 10

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Elain Archeron não era nada como as irmãs.

Enquanto Nestha Archeron era puro aço e fogo, e Feyre era o equilíbrio entre gentileza e autoridade, a irmã do meio era... bem, Elain. Aeleva sentiu a diferença assim que as duas se encontraram na sala de estar, logo após o treino. Aeleva estava suada e sangrando — havia se cortado com uma das lâminas —, mas Elain insistiu que seria uma conversa rápida, então Aeleva apenas se sentou no sofá e esperou.

De todos que ela havia conhecido até então, Elain era a que aparentava ter mais medo. Aeleva também não quis deixar as coisas mais fáceis. Estava cansada da forma como todos a olhavam e, se assim fosse para ser, ela não faria nada para mudar suas opiniões.

O Encantador de Sombras estava lá também, parado no canto da sala de braços cruzados. Feyre havia cumprimentado-a mais cedo, mas já havia partido, deixando-os a sós.

— É um prazer finalmente te conhecer — disse Elain, um pouco nervosa —, falaram muito sobre você.

Aeleva ergueu as sobrancelhas.

— Só coisas boas, imagino — respondeu com ironia, a voz seca.

Elain não soube como responder, e começou a encher duas xícaras de chá para elas. Aeleva reparou no leve tremor de suas mãos, e quis rolar os olhos. Aquilo era tão exagerado e dramático. Todos naquela casa eram exagerados e dramáticos. Quando entenderiam que Aeleva não tinha interesse algum em nenhum deles? Muito menos queria machuca-los. Eles só lhe davam motivos para passar a querer.

— O que você quer? — Aeleva quis pular a parte em que Elain fingia se importar ou querer ajuda-la.

Com o canto do olho, viu Azriel mover instintivamente a mão para o cabo de Reveladora da Verdade. Aeleva se virou para ele.

Ouviu Elain suspirar.

— Quero conversar. Só isso.

Conversar? Essa certamente era a última coisa que Aeleva queria fazer.

— Devia ter falado antes — disse Aeleva, começando a se levantar —, não estou interessada.

Elain, no entanto, apoiou sua mão sobre a luva de Aeleva, como se pedisse para que ela ficasse. Aeleva ficou surpresa com o gesto, levando em conta o medo dos olhos de Elain, a forma como parecia lutar contra ele.

— Você sabe o que sou? — Perguntou ela. Aeleva, tornando a se sentar, apenas balançou a cabeça. Elain continuou — Sou clarividente. Tenho visões.

— E isso seria da minha conta porque...

Elain mordeu o lábio.

— Tive uma visão sobre você.

Aeleva ficou em silêncio, embora tenha escutado um zumbido nos ouvidos e o ambiente tenha ficado abafado.

— Uma visão sobre mim?

Elain assentiu.

— Geralmente são abstratas, nem sempre acontecem — explicou, tomando um gole de seu chá — Você chamava pelo nome de alguém. Abaddos. Pedia para que viesse até você.

Abaddos. O nome provocou um arrepio no corpo de Aeleva, embora ela não conseguisse se lembrar do porquê. Dor, também.

— Abaddos — Repetiu, em voz baixa.

— Você estava no campo de batalha, seus olhos brilhavam. Nós... todos estavam ajoelhados.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora