Capítulo 34

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— Pela Mãe, Aeleva — sussurrou Feyre, sentada no sofá da sala de estar.

Aeleva encarou seu reflexo no vidro que levava ao terraço. O vestido que tinha no corpo tinha um decote em V que descia até o umbigo, mangas compridas em forma de sino e era feito de um tecido vinho tão pesado que Aeleva se sentia em uma armadura. O corte na perna, alto apenas o suficiente para que suas roupas íntimas não ficassem à mostra, expunha a bainha preta de uma das Gêmeas. O corpete apertado na parte inferior da cintura também era um bom apoio para a sua faca, e seus novos braceletes, cada qual portando uma faca fina que mais se parecia com uma agulha deitada em seu antebraço, ficavam bem escondidos pelas mangas largas.

— Isso seria um eufemismo — rebateu Mor, espiando Aeleva enquanto atarraxava um brinco dourado na orelha. Estava usando um vestido vermelho como os outros com os quais estava acostumada, os detalhes dourados combinando com seus cabelos.

Aeleva voltou o olhar pra Feyre. Ainda estava um pouco surpresa pela fêmea estar agindo como uma amiga, mas as coisas haviam levemente mudado após o incidente no Pântano de Oorid. Todos agora alegavam que Aeleva tinha salvado suas vidas, parecendo muitíssimo alheios ao fato de que fora ela quem os colocara em perigo para início de conversa. Para ela, não fazia muito sentido. Principalmente se parassem para pensar que o poder de Aeleva finalmente havia dado as caras — e as consequências não eram das melhores. Ela sequer saberia como controla-lo. Era muito pior que a versão raquítica e faminta de Aeleva de alguns meses atrás.

Ainda assim, Feyre havia mudado.

— É prático — Aeleva comentou, correndo os dedos pelo decote exagerado. Havia tantas cicatrizes por ali que nem se dera o trabalho de contar. Sem falar das armas expostas — Principalmente para Helion.

— Deixe Helion com Lolla — Feyre parou ao seu lado, alisando as costas do vestido.

Feyre estava com um vestido arrasador preto com prateado. Brilhava tanto no reflexo do vidro que parecia revestido com pontos de luz.

— Falando nisso — disse Mor, terminando de passar o seu batom —, onde Lolla está?

Feyre comprimiu os lábios.

— Atrasada — respondeu, então olhou de esguelha para Aeleva —, aconteceu algo entre vocês?

Aeleva deu de ombros antes que as palavras ditas durante a briga das duas chegasse até sua mente. Considerando que ambas estavam com hematomas no dia anterior durante a reunião, Aeleva imaginou que Feyre estivesse perguntando apenas para perguntar. Era óbvio que haviam brigado.

— Divergências criativas — Aeleva se limitou a responder.

Besteira. Mas serviu para responder Feyre, que apenas a observou por um instante antes de assentir.

— Entendi — ela caminhou até o terraço, observou as estrelas. Aeleva imaginou que Feyre estivesse tentando situar-se no horário, Rhysand talvez a estivesse ensinando. Por incrível que parecesse, Aeleva não precisava olhar muito para o céu para saber. Como se tivesse aprendido há muito, muito tempo, e nunca tivesse esquecido —, podemos ir? Rhys avisou que Cassian e Azriel já conferiram o salão. Azriel está emburrado.

Aeleva sorriu, achando graça.

— Podem ir — Mor respondeu, sentando-se no sofá — Vou esperar por Lolla, nos encontramos lá.

Feyre assentiu, mas Aeleva observou Mor ainda por um instante antes de dar de ombros. O que Mor queria com Lolla? Estaria mentindo se dissesse que não vinha notando os olhares que a loira lançava a sua irmã. Ou quando ela observava Lolla treinando, ou ria de algum comentário sarcástico. O que ela queria com Lolla?

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora