Capítulo 14

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Devia passar das dez, e Azriel ainda não havia voltado.

Eles tinham passado um bom tempo nos templos, Azriel decidiu mostrar a ela alguns golpes com sua adaga e Aeleva passou a manhã inteira repetindo seus movimentos. Tentou explicar a Azriel que tinha dificuldades porque os movimentos não eram tão intuitivos assim, e ele foi muito mais paciente — e exigente — que Cassian costumava ser. Não que Cassian não era paciente com ela, mas as coisas pareciam mais tranquilas com Azriel, mais confortáveis. Então, Azriel os levou até a praia e Aeleva decidiu contar a ele sobre seu pesadelo. Foi mais fácil do que ela pensou que seria, porque Azriel lhe contou todos os pesadelos com Durendal que já tivera. E outros, que costumava ter durante as guerras.

Nenhum dos dois estava ansioso para voltar e encarar Helion. Azriel a levou para a orla da praia e pediu para que ela esperasse enquanto ele buscava almoço para os dois em um restaurante no píer. Eles comeram juntos em uma das mesas, as sombras escondendo Aeleva de olhos curiosos — e eram muitos, porque, pelo visto, não se dava para ser um Encantador se Sombras sem atrair muita atenção. Quando finalmente decidiram retornar para o Palácio, tiveram tempo apenas de subir até o quarto antes que alguém batesse na porta e chamasse por Azriel. Ele não voltara desde então.

Aeleva aproveitou o tempo sozinha para tomar um banho e pegar os livros que costumava folhear para aprender a ler. Já tinha feito um bom avanço — ela sabia as letras agora, e os sons das vogais. Ainda era muito difícil e frustrante, mas algo havia lhe dado energia extra naquele dia. Um senso de quem ela era, e a certeza de que poderia ler se quisesse.

Horas se passaram, e ela se cansou daqueles livros. Levantou-se e foi até a estante cheia de livros da sala de estar. Helion havia comentado que eles tinham a maior biblioteca de Prythian, e até mesmo Rhysand já viera atrás dela. Julgando pela quantidade de livros que havia em um quarto de hóspedes, ela mal podia adivinhar o tamanho que a biblioteca deveria ter para não sentir falta de tudo aquilo.

Ela folheava um livro de capa dura e dourada, admirando as imagens e ilustrações sem entender do que se tratava, quando a porta finalmente se abriu.

— Espero que sejam boas notícias — disse Aeleva antes mesmo de se virar —, embora eu duvide muito.

Azriel suspirou, e o farfalhar de suas asas junto com o som de seu corpo afundando no sofá foram confirmação o suficiente para Aeleva. Ela levantou o rosto do livro que folheava e encontrou com o olhar de macho, cansado e distante.

— Devemos ir embora amanhã pela manhã.

Raiva fria se instalou no peito de Aeleva, embora parte dela soubesse que Helion estava sendo razoável. Aeleva tinha praticamente admitido que sua localização seria o enfoque do ataque de Durendal, o qual, e isso não era mais segredo para ninguém, vinha devastando territórios inteiros em uma velocidade muito maior que qualquer exército que já enfrentaram. Fazia sentido que o Grão-Senhor colocasse sua corte acima dos interesses de Aeleva, até mesmo acima da aliança com a Corte Noturna. Não era pessoal. Aeleva entendia, ainda que parte dela o achasse covarde e fraco. Talvez a parte que se lembrava de todos os milhares de anos de vida, e de tudo que já havia enfrentado. A Aeleva atual não conseguia encontrar nenhuma explicação plausível para sua raiva.

— O que Rhysand acha disso?

Azriel massageou as têmporas. Rhysand também não sabia que Durendal estava ativamente atras dela até agora — o que fazia Aeleva sentir-se ainda mais estúpida por ter revelado aquele fato. Mas não parecia justo esconder. E, no fundo, Aeleva só estava sendo egoísta, porque sabia que isso faria com que eles se esforçassem ainda mais para prepara-la.

— Não gosta nada — respondeu o mestre-espião —, conversaremos com ele amanhã durante a tarde.

Aeleva fechou o livro e empurrou-o para a estante.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora