Capítulo 31

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— Pensei que tivesse me feito claro no último Solstício.

Azriel não precisou perguntar para saber sobre do que Rhys falava, tampouco precisou desviar o olhar das janelas para ve-lo entrar. Era a primeira vez que Rhys o vinha visitar sozinho — todas as outras vezes, desde que o haviam colocado de volta em seu quarto na Casa do Rio pouco mais de uma semana atrás, Rhys vinha acompanhado de Feyre ou entrava quando havia outro alguém no quarto. Sempre que olhava para o irmão, sabia que algo o incomodava. Azriel apenas não imaginava que fosse isso.

— Pensei que Aeleva saberia guardar um segredo.

Noite escapou do corpo de seu irmão, tingindo o quarto de escuridão. A luz do sol se pondo tornou-se cinzenta pela janela.

— Guardou muito bem — Rhys respondeu com raiva —, mas não precisa ser um gênio para entender o motivo pelo qual ela insiste tanto a Feyre para que permita Elain de visita-lo.

Azriel queria sentir raiva, queria mesmo, de seu irmão e de sua Grã-Senhora por não deixarem que Elain fosse até a Casa do Rio. Entretanto, como parceiro, ele entendia — coloca-la na mesma casa que Aeleva e Lolla era perigoso até demais. Ainda que Azriel confiasse cegamente na primeira, Elain ainda não havia se acostumado com sua presença, e a última coisa que Azriel queria era ve-la desconfortável por sua causa. Lolla, por outro lado, Azriel queria o mais longe possível da irmã Archeron.

Ao mesmo tempo, sentia-se culpado, afinal foi ele quem impedira Feyre de levar Aeleva de volta para a Casa do Vento. Quão errado aquilo era? Saber que enquanto Aeleva estivesse hospedada lá, sua parceira não poderia ve-lo, e mesmo assim não querer abrir mão da presença semideusa.

A culpa o impedia de pregar os olhos para dormir.

— Estou cansado dessa história, Rhys.

Azriel não tinha energia para alcançar o mesmo nível de ódio frio que o irmão tinha nos olhos. Sabia que não possuía qualquer moral para tanto. A única raiva que conseguia sentir era dele mesmo, por ter rezado tanto ao Caldeirão, por odia-lo pelo fato de não o considerar digno de uma parceira... E agora estar provando que realmente nunca fora. Porque agora o Caldeirão o permitira sentir o laço...

E tudo que ele conseguia pensar era em outra pessoa.

Parte dele queria culpa-la. Azriel jamais se esqueceria de acordar com a sensação morna dos lábios de Aeleva em seu peito, sobre seu coração. De sua mão entrelaçada na sua, do calor de seu rosto contra o seu. De ouvi-la sussurrar em seu ouvido e de te-la o olhando tão de perto com aqueles seus olhos formidavelmente intensos. Azriel desejou que ela não tivesse feito nada daquilo.

A outra parte desejou se ferir todos os dias apenas para ter aquilo de novo.

— Se você está cansado, imagine como eu estou. Como nós estamos.

Azriel trincou os dentes.

— Vocês não tem absolutamente nada a ver com isso — Azriel queria gritar com ele, mas seu corpo ainda não estava bem o suficiente para que ele tivesse forças para isso — Não se intrometa.

Rhysand se aproximou da cama.

— Você vai destruir nossa possível aliança com a Corte Outonal e com as Terras Humanas. Aliança da qual nós dependemos, considerando o que está por vir. Sim, Azriel, eu vou me intrometer — Rhysand disse, com seu tom de Grão-Senhor — e você vai ficar longe de Elain.

Azriel fez esforço para se sentar, recostando-se contra a cabeceira sem tirar os olhos do irmão.

— E se fosse o contrário, Rhys? — Azriel perguntou, sem esconder a raiva nas palavras. Sem se importar com como soava — E se eu o estivesse impedindo de ficar com Feyre?

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora