Capítulo 29

730 107 15
                                    

Seu corpo inteiro doía quando acordou.

A primeira coisa que Lolla notou foi que estava em movimento. Uma fêmea a carregava apoiando-a em um ombro, arrastando seus pés pela lama, a mão gentilmente pressionando seu tronco para impedir que caísse.

— Eva? — Sua voz saiu mais fraca do que esperava que saísse.

Deuses, que merda havia acontecido? A cabeça de Lolla estava confusa. Sua primeira reação seria soltar-se daqueles braços e lutar, mas o cheiro familiar da fêmea que a levava impediu seus instintos de alerta-la quanto ao perigo. Sua cabeça queimava demais para que ela se importasse com quem a carregava — sabia que ninguém representava perigo de verdade, e, assim que recuperasse os sentidos por completo, resolveria sua situação. A não ser que aquela fêmea trabalhasse para Abaddos, mas Lolla não se importava suficientemente com a sua vida para ligar.

— Mor — corrigiu a fêmea, e Lolla levou instantes para se recordar do rosto bonito da loira.

Forçou um sorrisinho.

— Sou a donzela em perigo nessa história?

— Você acabou de ser esmagada, tem algumas costelas quebradas. Pare de falar.

Lolla piscou, as memórias voltando pouco a pouco. Lembrou-se que fora ao Pântano de Oorid com Aeleva em busca das Portas da Morte. Encontraram Caronte, então foram atacadas por dezenas de mortos. A última coisa da qual se recordava era de afundar o pé em um buraco lodoso, torce-lo e ser soterrada por corpos segundos mais tarde.

Que tragédia.

— Aeleva?

Tentou levantar a cabeça para olhar para Mor quando fazia a pergunta, mas seu pescoço doía muito. Reprimiu um resmungo enquanto encarava a vegetação hostil passar por seus pés, perguntando-se o porquê de ainda estarem ali. Havia pouco sol, carregadas nuvens cinzas quase pretas cobriam o céu. Quanto tempo havia se passado? Aquele tempestade não estava ali antes.

— Consciente — Mor respondeu, parando de andar —, não sabemos como.

Lolla poderia ter suspirado de alívio se não fosse pela dor que se espalhou por seu corpo ao ser apoiada contra o tronco de uma árvore retorcida. Deslizou vagarosamente até o chão com a ajuda de Mor, tentando não fazer muitas caretas. Não era nem de longe o pior ferimento que já havia lhe acontecido, então não foi nada difícil agir como se estivesse inteira.

Mor parou a sua frente, colocando as mãos na cintura e olhando para trás. Lolla franziu as sobrancelhas — Mor parecia apavorada.

— O que aconteceu? — Quis saber.

Mor não a olhou ao responder:

— Azriel está ferido. Rhys vai atravessar com ele, preciso buscar Aeleva e Cassian.

— Então vá.

Mordendo o lábio, Mor olhou preocupadamente para ela antes de desviar novamente o olhar.

— Não vou te deixar aqui.

Lolla tentou gargalhar, mas a risada doeu tanto suas costelas que ela se odiou por isso.

— Ah, por favor — ela esperava que sua voz soasse tão desdenhosa quanto pretendia. Aquilo era a coisa mais ridícula que já tinha ouvido — Vá logo.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora