Capítulo 45

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Velaris rugia além eles.

Aeleva podia ouvir tudo mesmo a distância — gritos e mais gritos, metal contra metal, caos generalizado. Mesmo dentro da casa do Rio, o som era assustador de tremer os ossos.

Seu corpo chacoalhava e tudo parecia um borrão conforme todos se reuniam na sala de estar, as luzes misturando-se com as colorações vermelha e azul dos sifões de Cassian e Azriel. Feyre surgiu com Nyx no colo, e Aeleva, ainda fortemente presa sob os braços e asas do Encantador de Sombras, não conseguiu ver a expressão que Rhys colocou no rosto, embora pudesse imagina-la.

— Cassian — ainda assim, a voz de Rhys não fraquejou nenhuma sílaba — vá para o Acampamento illyriano, traga os homens — então ele se direcionou à parceira — Feyre, querida, leve Nyx para a Casa do Vento e fique lá.

— Leve Aeleva com você — Azriel finalmente afrouxou o aperto o suficiente para que Aeleva pudesse sair de seus braços e encara-lo. Não encontrou a suavidade dos olhos castanhos que costumava encontrar sempre que ele a olhava.

— Não — ela afirmou, desvencilhando-se dele e atraindo seu olhar — Vou lutar com vocês.

Não havia tempo para aquela discussão quando os sons do lado de fora pareciam ficar mais e mais altos, Aeleva podia ouvir rosnados, gritos e sons melequentos de sangue e metal. Som dos mortos em pé. O coração de Aeleva apertou e raiva genuína fluiu por seu sangue.

A mão nua de Azriel tocou seu braço, e dessa vez Aeleva quase estremeceu com a gentileza de seu toque. Ela trincou os dentes.

— Sou melhor guerreira que vocês — argumentou ela — sou mais poderosa, mais experiente e sou eu quem Abaddos quer.

— Exatamente — disse Azriel, mais uma vez gentil — Durendal só está aqui para ter você, isso se ele estiver aqui. Você é a única que pode vence-lo, Eva...

— Por isso que eu...

— ... Precisa ficar escondida até termos certeza de que chegou a hora, ou se é só mais uma armadilha — Azriel a interrompeu.

Aeleva abriu a boca para discutir, mas foi Lolla que falou em seu lugar:

— Azriel está certo — não havia qualquer relutância em sua voz —, você ainda não está pronta para lutar com Abaddos a não ser que seja necessário — Aeleva não soube quando foi que Lolla teve tempo de vestir uma armadura, mas ali estava ela com nada além de um corpete de metal e uma saia de couro e mais fivelas no corpo que dedos nas mãos.— é melhor que fique escondida por enquanto e não arrisque ser morta antes da hora.

Aeleva olhou em volta buscando por apoio. Rhys estava no canto com Feyre, e eles cochichavam baixinho em um tom urgente — Aeleva podia imaginar que Feyre também não estava nada feliz em ser deixada para trás —, Mor ajustava sua armadura, Cassian verificava as armas presas no corpo de Nestha — e Aeleva ouviu Nestha resmungar algo como chamar as Valquírias — Lucien segurava Elain e Elain...

Elain olhava para ela como se pudesse ver todo seu futuro, e a sensação foi tão real que um arrepio subiu em seu corpo. A boca da irmã Archeron se abriu em surpresa e, se Lucien não a segurasse, o passo que deu para trás derrubaria toda uma estante de taças de vidro.

Ela sabe, Aeleva pensou.

Sobre você e Azriel?, a voz de Feyre a assustou em sua mente, e Aeleva percebeu que a Grã-Senhora já tinha terminado a conversa com Rhys e se aproximava. Sabe, todos nessa sala viram pelas janelas.

Aeleva balançou a cabeça, mas resolveu que aquela conversa não os levariam a lugar algum. Então ela fez uma coisa que surpreendeu até a ela mesma:

— Elain — disse ela — o que eu faço?

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora