Capítulo 20

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Havia algo de errado aquela tarde.

— Você não está se concentrando — disse Feyre, sentada a sua frente em pernas de índio sobre o tapete da biblioteca.

Aeleva olhou para a fêmea e rolou os ombros, sua cabeça doía com algumas pontadas. Mas a sensação esquisita ia além disso.

— Estou tentando — respondeu, fechando os olhos. Era fácil visualizar o labirinto, as suas paredes gigantescas vivas. Mas desde o flash de memória em que ela corria pelas bifurcações, visitar o labirinto de sua mente era como mergulhar em escuridão. Algo ruim lhe assombrava, como se aquele lugar criado em sua mente não tivesse sido criado nem para ela. Abaddos ficaria longe como qualquer outro ficaria.

E havia aquele aperto no peito, aquele nó que sempre brilhara intenso, puxando-a, alertando-a para o problema. Mas ela não conseguia encontrar o problema. Era a mesma sensação de quando via as sombras, o mesmo lugar, só que ruim.

Algo estava errado com Azriel. Era ridículo pensar que ela saberia, entretanto as sombras nunca falhavam em avisa-la.

— Aeleva...

Aeleva abriu os olhos e suspirou.

— Azriel já deveria ter voltado — Aeleva disse como quem não quer nada. Feyre, da forma como era intrometida, certamente já sabia que os dois haviam se tornado grandes amigos —, tem alguma coisa errada.

Feyre franziu o cenho.

— Não se preocupe, Aeleva — falou a Grã-Senhora, colocando uma mão em sua perna — Azriel sempre demora mais do que o previsto nas missões.

Aeleva esfregou o peito, bem onde a sensação lhe apertava. Feyre acompanhou sua mão com o olhar.

— Tem algo errado — rebateu Aeleva, então deu de ombros —, tenho certeza.

Feyre, com os olhos pousados sobre os dedos apertados de Aeleva, tinha interesse e curiosidade no rosto quando levantou o olhar. Um pequeno sorriso nos lábios, e Aeleva sabia que ela falava com o Grão Senhor. Ótimo, ao menos ela acreditava que Aeleva tinha um sexto sentido aguçado quando o assunto era o Encantador de Sombras.

— Rhys está tomando conta disso — assegurou Feyre, pescando seu copo d'água de cima da mesa de centro. Aeleva assentiu, pouco satisfeita. Azriel era mesmo insuportável. Aeleva era mais que capaz de ajuda-lo na espionagem da Corte Outonal, e não concordava com o fato de ser mantida longe do foco da presença de Abaddos.

Aeleva assentiu, mas Feyre continuou olhando para ela, um brilho sugestivo nas íris. Aeleva conteve uma careta.

— Que foi?

Outro sorriso no rosto da Grã-Senhora.

— Então... Você e Azriel...?

A expressão no rosto de Aeleva foi certamente pouco receptiva.

— O que tem?

Feyre deu de ombros e brincou com as gotas condensadas na lateral de seu copo de vidro.

— Nada — ela disse, e balançou a cabeça —, só estou feliz que ficaram próximos. Azriel geralmente não é tão aberto com qualquer pessoa, mas ele parece ser aberto com você.

Aeleva ergueu uma sobrancelhas.

— Minha boca é um túmulo — disse ela —, se quer saber sobre Azriel pergunte a ele mesmo.

Feyre gargalhou, deixando Aeleva ainda mais confusa.

— Não foi o que quis dizer. Só estou feliz, só isso. Vocês são as duas pessoas mais reservadas que conheço, não esperava que fossem ser tão parecidos.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora