Capítulo 40

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Os músculos de Azriel estavam tão rígidos que doíam. Não conseguia se lembrar da última vez que estivera tão tenso na vida, não com medo ou preocupação, mas com aquela tensão que subia pela espinha e entortava o estômago. A mão firme apertava Reveladora da Verdade no coldre, as luvas protegendo a pele do vento cortante do acampamento illyriano. A noite já havia caído, e Azriel, parado em frente à entrada da tenda de Aeleva, só podia torcer para que ela tivesse tomado um banho quente e já estivesse na cama.

Pelo Caldeirão, a imagem de Aeleva tomando um banho quente tomou sua mente. O vapor envolvendo a pele, a água correndo pelas cicatrizes do colo...

Não precisou se esforçar para mandar a imagem embora — bastou que dois illyrianos passassem pela tenda, virando o rosto suficientemente em direção a eles para fazer com que Azriel encarasse de volta. Os guerreiros desviaram o olhar e continuaram andando. Não eram os primeiros. Como esperado, Aeleva tinha se tornado uma espécie de atração: por onde andava, os pescoços se viravam e começavam os sussurros. Azriel não julgava ninguém por querer olha-la, considerando que Aeleva era, definitivamente, a fêmea mais formidavelmente fascinante e linda que já pisara no mundo, mas saber disso não ajudava em nada o seu humor. Não gostava dos olhares de desprezo e nem dos olhares atraídos. Leva-la ali havia sido uma péssima ideia. Para ele.

Era essa a razão para que Azriel estivesse parado feito um poste, músculos rijos e olhos atentos, em frente à tenda de Aeleva desde que ela os avisara de que iria se recolher. A única coisa que o acalmava era o fato de poder ouvir sua respiração se se concentrasse o suficiente. Esperava ansiosamente para que o som se tornasse pesado, indicando que ela havia caído no sono. Pela Mãe, como ele queria que ela descansasse ao menos um pouco. Devia estar exausta. A mera ideia de Aeleva perdendo seu sono por não se sentir segura ali...

— Vá com calma, irmão — alertou Cassian, sentado em um banco de madeira ao seu lado enquanto amolava uma de suas espadas. Havia se juntado a ele na vigia tão cedo Aeleva entrara na tenda — Ela está segura. As coisas estão indo bem até aqui.

Azriel não respondeu. Seu corpo vibrava em uma frequência agradável como resposta ao poder de Aeleva vazando para fora da tenda. Sabia que não estava sendo agradável para Cassian, que frequentemente se remexia de onde estava, incomodado com a atmosfera hostil criada pela áurea da fêmea. Tudo o que Azriel conseguia pensar, contudo, era em como já havia se acostumado com aquilo. Com Aeleva, com sua presença. Ele poderia fechar os olhos e adormecer com aquela sensação, a pressão contra sua pele, o conforto que era a força de Aeleva encurralando-o por todos os lados.

— Não acho que os machos ousariam chegar perto, de qualquer forma — continuou seu irmão, raspando uma pequena faca na lâmina comprida de sua espada.

Azriel inspirou fundo.

— O que foi aquela merda no templo? — Perguntou ele, vinha guardando o questionamento há muitas horas. Sabia que Devlon queria provar um ponto, mas não esperava que Aeleva fosse reagir daquela forma. Se tivesse feito aquilo há alguns meses atrás certamente seus irmãos o teriam tido como inimiga. Pedir para ficar sozinha no templo de Durendal? O que ela tinha na cabeça?

Nossa divina Aeleva sabe o que faz, suas sombras ficaram repetindo quando ele parara do lado de fora do templo, sentindo-se louco.

Cassian deu de ombros.

— Talvez ela quisesse passar alguma mensagem a Devlon.

— Que tipo de mensagem? — Azriel se virou por completo ao irmão.

Cassian encolheu os ombros e balançou a cabeça, entortando o rosto para olha-lo.

— Não sei — respondeu —, talvez a mensagem de que não tem medo dele.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora