Capítulo 6

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Aeleva sequer teve tempo de tomar um banho antes de ser abordada por Amren.

A fêmea a interceptou no corredor que levava ao seu quarto dizendo que estavam atrasadas para começar com as pesquisas, então, argumentando que almoçariam na biblioteca particular, fez Aeleva segui-la até lá.

Aeleva estava fraca demais para debater ou explicar que precisava trocar de roupa. Seu moletom estava ensopado de suor, e, honestamente, precisava de uma banheira quente e um descanso. Pensou que poderia até dormir por algumas horas se deitasse na cama. Na realidade, assim que Azriel partiu, ela se sentiu muito tentada a obedece-lo e comer alguma coisa. Sua visão estava turva e escura, o mundo girava ao redor dela.

Desabou em uma poltrona em frente a uma mesa de centro. Amren sentou-se no chão, puxando para perto uma pilha de livros. Algo a respeito da fêmea fazia com que Aeleva se sentisse a vontade, o que era muitíssimo estranho dada a forma como todos os outros pareciam trata-la. Talvez fosse porque Aeleva não precisava ser educada perto dela. Não precisava fingir que estava bem.

— Azriel pensa que você é uma encantadora de sombras.

Aeleva ainda observava a fêmea quando foi surpreendida com sua fala. Focou sua atenção nela e a encarou como se não acreditasse no que estava ouvindo.

— O que é uma encantadora de sombras?

— É o que ele é.

Aeleva pensou nas sombras que rondavam o mestre-espião. Ela havia notado como elas pareciam ter vida própria, agitando-se e acalmando-se quando bem entendessem, rodopiando livremente pelo ringue de manhã. Gostava das sombras. Pareciam boas companheiras para os dias solitários. As sombras pareciam gostar dela também. Isso, ou Azriel as havia mandado para espiona-la no treino e arrancar qualquer informação que pudessem arrancar dela.

— O que você acha? — Aeleva perguntou.

Amren parecia entediada.

— Estupidez.

— Eu também. — Aeleva concordou, embora ser uma encantadora de sombras parecesse convidativo.

Amren abriu um livro sobre o colo e observou Aeleva. Observou de verdade, e foi como se Aeleva pudesse sentir seu olhar como um toque físico. Seus olhos prateados pareciam carregar anos, e era como... Era um pensamento idiota, mas, naquele momento, Aeleva teve a sensação de se olhar no espelho.

— Estou viva há muitos anos, conheci muitas criaturas ao longo de minha vida. Você é a primeira de seu tipo que encontro.

Aeleva ergueu a sobrancelha, esperança faiscando em seu coração.

— E qual é meu tipo?

A esperança foi embora quando Amren desviou o olhar.

— Eu não sei. Eu só sei que é a primeira. — Pareceu uma mentira. Talvez uma meia verdade.

Aeleva apontou para os livros de Amren.

— Não estamos aqui para ler sobre Durendal, não é?

Amren balançou a cabeça.

— Ótimo. — Admitiu, descendo da poltrona e sentando-se no tapete ao seu lado. — Porque não sei ler.

Como esperado, Amren passou direto pela informação. Aeleva ficou satisfeita.

— Quero descobrir que tipo de poder mora em você. — A fêmea disse. — Então vou te ensinar a procura-lo.

— Acha que tenho algum poder?

— Eu tenho certeza. — Amren fez um gesto com o queixo para que Aeleva ajeitasse sua postura, e assim Aeleva fez, cruzando as pernas em frente ao corpo. — Feche os olhos. Concentre-se. Me diga o que sente.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora