Capítulo 18

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Deviam passar das três da manhã quando Aeleva seguiu até o ringue de treino. Dessa vez, os livros que tinha sob o braço não tinham nada a ver com Durendal, ou com Valquírias ou qualquer coisa realmente útil para ela. Talvez ela devesse se envergonhar por isso, sabendo que não tinha feito qualquer progresso e ainda se dava o luxo de se dar um descanso, mas naquela madrugada ela decidiu que não daria a mínima.

Sentou-se em um sofá extenso que contornava o ringue. Estava vazio e silencioso, os grilos cantavam em intervalos dispersos e preenchiam o vazio sonoro vindo da cidade. Esperava não ter dado muito na cara quando pediu a Nestha livros sobre parceria, e acabou confessando a ela que tinha alguém com quem sonhava e queria encontrar. Não mencionou o fato que havia prometido a Azriel que descobriria se Elain poderia mesmo ser sua parceira. Mas, bem, ela queria honrar sua promessa.

O título tinha muitas vogais, e ela conseguiu ler: Almas-gêmeas. Clichê. Mas Nestha havia falado que não tinha nada a ver com romance, e era muito mais informativo que qualquer outra coisa, e Aeleva decidiu que daria uma chance. A leitura era lenta e difícil, mas ela se orgulhava se ter conseguido ler o índice. O Caldeirão e a parceria, era o capítulo em que ela abriu. Se Azriel acreditava mesmo que o Caldeirão estivesse errado, talvez ela encontrasse alguma coisa ali.

— Pensei que te encontraria aqui.

Aeleva ainda não sabia como Azriel conseguia ser tão silencioso, mas não levou um susto dessa vez. Sorriu de lábios fechados diante à excitação das sombras correndo se um lado para o outro até repousarem nos ouvidos do mestre-espião. Provavelmente sussurraram algo a ele, porque as sobrancelhas de Azriel se levantaram e seus olhos desceram para o livro que tinha no colo.

— Almas-gêmeas, huh?

Aeleva deu de ombros, deslizando pelo sofá para que ele pudesse se sentar ao seu lado.

— Disse a você que procuraria, não disse? — falou ela, satisfeita com o calor do corpo do Encantador de Sombras quando ele se sentou — Disse a Nestha que queria saber mais sobre parceria. Ela me deu esse livro aqui.

Suas sobrancelhas se arquearam.

— Você disse a Nestha?

Aeleva rolou os olhos.

— Não se preocupe, Encantador de Sombras. Não disse nada sobre você — ela respondeu, com os olhos nos dele —, estou aprendendo a ler, sabe.

Um pequeno sorriso se abriu em seu rosto, e o dedo coberto de cicatrizes pousou sobre o título da página.

— Pode ler isso aqui?

Aeleva se virou para a palavra, percorrendo as sílabas. Demorou um intervalo vergonhosamente longo, mas, por fim, leu:

— O laço do destino — disse, e olhou para ele em busca de aprovação. Azriel sorriu, e Aeleva não conseguiu evitar de acompanha-lo — Esse negócio é bem dramático, não é? Nunca vou me acostumar com vocês, feéricos. Encontro de almas, fala sério.

Azriel riu.

— Um pouco de drama nunca fez mal a ninguém.

— Fale por você. — Respondeu ela — Li coisas sobre o Caldeirão. Não acha que é mais fácil que ela tenha dois parceiros do que o Caldeirão ter errado?

Azriel olhou para ela.

— É o que acha?

Aeleva assentiu.

— Bem, você tem certeza que ela é sua parceira?

Azriel assentiu sem sequer hesitar, e Aeleva não soube de onde veio sua repentina tristeza, como se algo em seu peito murchasse. Devia ser horrível ver sua parceira parceira de outro macho, ainda mais se tudo o que Azriel e Nestha falara a respeito deles fosse verdade — sobre os machos que iam a loucura se tivessem o laço rejeitado.

Corte de Sombras e TempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora