Bônus Quatro

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Caio Alves:

Olhei para as informações que Alice tinha me enviado, fruto da pequena investigação que ela mesma conduziu. Cada detalhe se encaixava na trama de um traidor que eu nem sabia que estava tão perto. Minha cabeça girava com as peças do quebra-cabeça que finalmente começavam a fazer sentido. Ela não me deixou muito espaço para dúvidas — era a hora de eu investigar mais a fundo. E lá estava ele, o traidor, vivendo em um bangalô modesto, quase esquecido pelo tempo.

O lugar tinha aquele charme peculiar de abandono intencional, como se cada camada de poeira sobre as janelas fosse parte de uma obra de arte meticulosamente negligenciada. Era o tipo de lugar que provavelmente assustava as crianças da vizinhança, a última casa da rua em que se pensaria em bater na noite de Halloween. "Um esconderijo perfeito para alguém que quer passar despercebido", pensei, com uma pitada de sarcasmo enquanto analisava as informações.

Apesar do bangalô esquisito, a rua em si era surpreendentemente agradável. Algumas casas à frente, um grupo de crianças brincava de amarelinha, suas risadas inocentes preenchendo o ar com uma leveza que contrastava com o peso que eu sentia nos ombros. Um senhor, sentado no terraço, folheava calmamente um jornal, cercado por uma fileira orgulhosa de anões de jardim. Ele parecia tão em paz que eu quase desejei poder trocar de lugar com ele, ainda que fosse só por um instante, para escapar da confusão em que minha vida tinha se tornado.

Respirei fundo. Se não estivesse em uma missão, eu quase poderia considerar aquela rua como o lugar perfeito para passar meu tempo livre, longe de tudo, apenas observando o mundo seguir seu curso. Mas claro, não era exatamente um "tempo livre". Havia sempre algo em jogo, algo escondido nas sombras.

Meu celular vibrou no bolso, arrancando-me dos devaneios. Dei uma olhada rápida na tela. Era uma mensagem de Pedro. Uma onda de calor subiu pelas minhas costas, e um sorriso involuntário escapou dos meus lábios. Pedro sempre tinha esse efeito em mim, mesmo nos momentos mais inoportunos. Dei uma risada curta, sabendo que, mesmo que o mundo estivesse prestes a desabar, ele conseguiria fazer com que tudo parecesse menos complicado.

Pedro 😾😠:
[Não, mate ele]

Revirei os olhos e soltei um suspiro enquanto subia os degraus da pequena varanda. Sério, Pedro? Sempre tão impulsivo. Digitei rapidamente uma resposta enquanto subia o último degrau, com a madeira rangendo sob meus pés.

Eu:
[Não iria fazer isso!! Temos que interrogá-lo antes, sei muito bem desse fato]

Assim que pressionei "enviar", minha atenção se voltou para a aldrava ornamentada na porta da frente. Era uma daquelas aldravas antigas, em formato de cabeça de leão, com detalhes intrincados que claramente não combinavam com o estado decadente do resto do lugar. Algo quase irônico, como se a porta estivesse tentando desesperadamente se agarrar a uma glória que já não existia mais. Suspirei novamente, desta vez por conta da estranheza da situação.

Levantei a aldrava e a deixei cair com um baque surdo, o som ecoando mais alto do que eu esperava naquela rua tranquila. No exato momento em que soltei a aldrava, meu telefone vibrou novamente no bolso. Claro, só podia ser Pedro, sempre apressado para mais respostas.

Por dentro, eu podia sentir uma mistura de irritação e carinho. Ele sempre se preocupava, mesmo que fosse de um jeito... digamos, "explosivo". E, bem, eu sabia que ele confiava em mim — só precisava lembrar disso em meio às suas mensagens com emojis furiosos. Com uma última olhada para a aldrava, que agora balançava suavemente de volta ao lugar, puxei o celular para ver o que Pedro tinha para me dizer desta vez.

A porta se abriu lentamente, revelando um homem alto e esguio, vestido com jeans desgastados e uma jaqueta de couro que parecia ter visto melhores dias. Seus olhos me analisaram brevemente antes que ele falasse, com uma mistura de surpresa e indiferença.

Espião Amoroso (MPreg) | Livro 1 - Família AlvesOnde histórias criam vida. Descubra agora