Capítulo Vinte e Seis

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Pedro Alves:

Assim que o esporro dos meus pais terminou, subi direto para o meu quarto. Joguei-me na cama com um resmungo irritado, me sentindo como um adolescente sendo castigado. Era ridículo. Eu sabia que tinha sido imprudente, mas ouvir isso de novo e de novo... era como se estivesse voltando no tempo, revivendo antigas discussões com meus pais.

Antes que pudesse afundar mais nas minhas frustrações, a porta se abriu sem cerimônia e Vincenzo entrou, como sempre invadindo meu espaço sem ser convidado.

— Pedro, sabia que isso iria acontecer — ele começou, com aquela voz casual que me irritava profundamente. — Mas você quis ser cabeça-dura. Vai me dizer que está mal porque nossa mãe brigou com você? Isso não é o fim do mundo.

Levantei a mão e mostrei o dedo do meio, sem paciência para a provocação dele.

— Estou irritado porque deixamos aquele louco escapar — respondi, me levantando e encarando-o com seriedade. — Sabe que ele pode estar em qualquer canto da cidade, nas sombras, só esperando o próximo movimento. Então, sim, estou descontente com essa situação.

Vincenzo deu de ombros, completamente imperturbável, como sempre.

— Você está pior que o Caio quando quebrou o braço — ele disse, sorrindo de lado. — Mas sabe que vai se recuperar. Além disso, mesmo que não esteja mais no clima de trabalho, você ainda tem um filho inteligente e... um namorado fantástico.

— O Connor não é meu namorado! — respondi alto demais, quase me assustando com a força das minhas próprias palavras.

Vincenzo, como o idiota provocador que é, deu de ombros de novo.

— Coloca um "ainda" na frente dessas palavras. — Ele me olhou com aquele ar de quem sabe mais do que deveria, e eu me segurei para não socá-lo de novo.

— Já sei, passei dos limites, né? — ele admitiu, levantando as mãos em sinal de rendição.

— Ainda bem que você entende — resmunguei, apontando para a porta. — Agora, pode sair do meu quarto.

Vincenzo virou as costas, saindo sem mais uma palavra. Balancei a cabeça, tentando me acalmar, mas a irritação ainda estava lá. Parte de mim sabia que ele tinha razão — sobre tudo, inclusive sobre Connor. Mas naquele momento, tudo o que eu queria era um pouco de paz e silêncio.

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Novamente, a porta se abriu, e desta vez era Samuel, me olhando cauteloso, como se estivesse medindo a situação antes de entrar. Sentei-me na cama, a irritação que sentia antes suavizando ao ver seu rostinho arrependido.

— Pai, desculpa por fazer a vovó Gisele, a Agnes e o vovô Edson comprarem aquelas roupas sem te avisar — ele disse, a voz baixa e cheia de culpa. Sorri levemente, sentindo o coração amolecer.

— Eu também acho que preciso te colocar alguns limites com essas coisas — respondi, batendo ao meu lado na cama para que ele viesse se sentar. Samuel caminhou devagar até mim e se acomodou ao meu lado, com os olhos ainda preocupados. — Mas a partir de agora, você vai ficar de castigo, e sim, vai ter muitos limites.

Ele olhou para mim, claramente já esperando isso.

— Posso aceitar isso. Já pensei: sem televisão e sem videogames por duas semanas — disse ele, num tom resignado, estendendo o celular em minha direção. — E também sem meu celular.

Sorri por dentro, admirado com a maturidade dele em se punir, mas não deixaria as coisas tão fáceis.

— Um mês — corrigi. — E também ficará sem as vídeo-chamadas com o Connor.

Espião Amoroso (MPreg) | Livro 1 - Família AlvesOnde histórias criam vida. Descubra agora