Capítulo Cinco

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Pedro Alves:

Connor ainda me olhava, incrédulo, com aquele olhar que me fazia questionar o que ele estava pensando. Mas, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o pai dele o puxou para fora do quarto, interrompendo qualquer possibilidade de uma conversa mais séria. Eles saíram às pressas, dizendo que me ligariam mais tarde, como se isso resolvesse algo. No entanto, antes de desaparecer pela porta, Connor deixou um bilhete para Samuel em cima da mesinha ao lado da cama. Aquilo me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir.

Não consigo entender por que Connor insiste em esconder sua verdadeira identidade ou em manter essa fachada de pessoa gentil. Ver o modo como ele agiu, recusando até mesmo a minha gratidão, me deixou completamente desorientado. Como ele pode agir de forma tão fria depois de ajudar meu filho? O simples fato de ele ter me pedido um beijo na boca, em um momento tão delicado, me irritou profundamente. A raiva pulsava dentro de mim, e, sem pensar, deixei as palavras escaparem: pedi-o em casamento, em um gesto impulsivo que nem eu mesmo entendia completamente. Ele, por outro lado, parecia apenas querer me ajudar quando necessário, como se isso fosse o suficiente para justificar tudo. Não fazia sentido. Como ele pôde me ajudar dessa forma e ainda assim agir como se fosse irrelevante?

Senti o peso do silêncio quando saí do quarto do hospital VIP. A tensão estava estampada no meu rosto, e cada passo que eu dava parecia ecoar no corredor. O caso de Samuel ainda me preocupava profundamente. Ele era alérgico a algo que comeu naquele depósito maldito, e agora estava deitado, vulnerável, como se fosse dormir por um longo tempo. A visão do meu filho naquela cama, tão frágil, apertava meu peito. Eu devia estar aliviado por ele estar recebendo cuidados, mas a incerteza corroía minha alma. Agradeci a todos os deuses por ele ainda estar aqui, mas o mistério sobre o que aconteceu e a frieza de Connor me atormentavam. O que viria depois disso?

Meu celular vibrou no bolso, trazendo-me de volta à realidade. Quando o tirei, vi que era uma ligação da minha mãe. Suspirei antes de atender e saí do hospital, indo para o lado de fora, onde o estacionamento ficava silencioso sob a luz suave dos postes.

— Oi, mãe — falei, tentando soar o mais tranquilo possível, como se estivesse tudo normal, apesar do turbilhão dentro de mim.

— Como foi o primeiro dia de férias? Espero que vocês tenham se divertido bastante, e já vou avisando: não vá treinar ele ou muito menos ensinar alguma técnica secreta — disse ela do outro lado, o tom sério, mas com aquele toque maternal que sempre me fazia sorrir. — Pedro, ele é uma criança.

— Mãe! Eu sei que ele é uma criança — respondi, exasperado. — Jamais vou deixar ele treinar até que tenha idade o suficiente para isso. Essa é minha opinião sobre o treinamento físico dele, e sobre ensinar outras línguas tão cedo.

Ouvi-a murmurar algo, claramente insatisfeita, antes de responder com aquele ar de sabedoria que só as mães têm:

— Conhecimento é sempre bom para qualquer um, em qualquer idade. Sempre é a melhor escolha.

— Eu sei, mãe, mas já está aprendendo duas línguas além da nossa. Forçar mais do que isso agora me parece um pouco demais. — Suspirei, já prevendo a resposta dela. — Duas já é muito bom para a idade dele.

— Está reclamando demais para o meu gosto. Samuel está aprendendo, e quanto mais ele souber, melhor será para o futuro dele. — A voz dela carregava uma firmeza inabalável. — Agora, chega desse assunto ou vou até aí e acabo com sua raça.

Antes que eu pudesse responder, ouvi alguém chamando minha mãe do outro lado da linha. Ela se despediu rapidamente:

— Tenha um bom descanso. Qualquer coisa, me ligue imediatamente, entendeu?

Espião Amoroso (MPreg) | Livro 1 - Família AlvesOnde histórias criam vida. Descubra agora