Capítulo Trinta e Um

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Connor Wessex:

Fazia quatro semanas desde que eu tinha assinado os papéis para dar início aos meus planos de carreira. Quatro semanas intensas, cheias de expectativas e, ao mesmo tempo, dúvidas. A vida continuava, meio que no piloto automático. Mas, se havia algo que fazia sentido e me trazia conforto, era passar as noites na casa do Pedro, na companhia dele e do Samuel. Ah, o Samuel... O garotinho conseguia iluminar qualquer ambiente com sua risada contagiante, e Pedro, bem... só de estar ao lado dele, eu me sentia em paz, como se o resto do mundo pudesse esperar.

Só que, claro, nem todo mundo estava satisfeito com a minha "nova rotina". George, com seu jeito brincalhão (mas levemente ácido), fez questão de me "reclamar" que eu estava deixando ele de lado. E o pior, Mariano concordou! Ele também se queixou, dizendo que eu tinha simplesmente desaparecido das suas vidas. No fundo, eu sabia que eles estavam certos, mas era difícil conciliar tudo. Trabalho, vida pessoal, amigos... O tempo parecia escorregar pelos meus dedos, e eu mal conseguia atendê-los quando ligavam. Admito, talvez eu estivesse meio ausente. Não por querer, mas por aquela sensação de que, às vezes, você só precisa de um respiro, um espaço para si mesmo — ou, no meu caso, para Pedro e Samuel.

Prometi a mim mesmo que iria resolver isso. George e Mariano não mereciam ser deixados de lado. Eu até tentei marcar um encontro, para sairmos todos juntos, como antigamente, mas ultimamente estava impossível encontrar tempo. No fim, nos contentávamos com mensagens trocadas apressadamente. Às vezes, eu lia uma mensagem deles e pensava: "Eu preciso responder agora." Mas, quando via, horas tinham passado, e a resposta ficava para depois... e depois... E aí vinham os memes, piadas internas e aquelas indiretas, do tipo: "Vai sumir de novo, né?"

Sabia que precisava consertar isso, mas cada vez que estava com Pedro e Samuel, o mundo lá fora parecia ficar menos urgente.

— Connor, está me ouvindo? — Reggie estalou os dedos bem na frente dos meus olhos, me arrancando do transe em que eu estava.

Reggie sempre me surpreendia com seu jeito vibrante e peculiar. Ele estava vestido com uma camiseta que ele mesmo criou — cheia de desenhos abstratos e cores que só alguém com a mente tão criativa como a dele poderia imaginar. Seus cabelos longos estavam presos em uma trança que atravessava sua cabeça, com uma faixa fina ao redor, e dois brincos esportivos pendurados em suas orelhas. Mesmo com a aparência um pouco desleixada, tinha uma confiança única, algo que eu sempre admirei nele.

Eu estava no apartamento dele e do namorado, um verdadeiro caos criativo. O lugar parecia um cenário entre a ordem e o completo desastre, como se alguém tivesse começado a organizar as coisas e, no meio do caminho, decidido largar tudo. Câmeras de todos os tipos e tamanhos nos observavam de cima de uma prateleira, as lentes pretas parecendo olhos gigantes. No chão, uma caixa de tintas a óleo com pincéis tão velhos e duros que pareciam mais esculturas do que ferramentas. Havia blocos de anotações em branco, alguns diários abandonados, blocos de madeira e uma faca de esculpir, além de várias tralhas de hobbies que eu nem conseguia identificar. Tudo isso gritava a essência artística de Reggie e sua busca constante por novas formas de se expressar.

— Sim, estou ouvindo perfeitamente — respondi, ainda meio distraído.

— Ah, claro que está! — Mariano balançou a cabeça com um sorriso irônico. — Então, diga pra gente do que estamos falando agora, gênio?

— Sobre o namorado do Reggie tirar fotos para o evento de sucessão do meu pai. — Apontei para Luiz, que estava na cozinha, preparando alguns doces. — Mas ainda quero saber por que ele está cozinhando...

— Por uma razão muito simples — Luiz se virou, apontando uma colher cheia de massa para mim, com aquele ar de quem sempre tem uma resposta. — Eu estou com vontade de doces, e como você sabe, estou grávido. Além disso, estou um pouco nervoso sobre como nosso pai vai tentar convencer Aaron a deixar ele planejar o nosso casamento.

Espião Amoroso (MPreg) | Livro 1 - Família AlvesOnde histórias criam vida. Descubra agora