Connor Wessex:
No carro, o silêncio só era interrompido pelo som leve do motor. Samuel, no banco de trás, estava com os olhos fixos no telefone, esperando por uma resposta que parecia não chegar. Sua expressão de grande sofrimento e raiva era evidente. Ele apertava o aparelho como se, de alguma forma, isso pudesse acelerar a chegada da tão aguardada ligação. Era o tipo de cena que me partia o coração, ver um garoto tão jovem carregando emoções tão pesadas.
Desafivelei o cinto de segurança, tentando suavizar o momento com um tom mais leve.
— Está esperando a ligação do seu pai? — perguntei, olhando para ele com um sorriso reconfortante. — Vou dar uma olhada, pode ser que ele ligue mais tarde. Espere até à noite, quem sabe ele liga mais tranquilo.
Meu pai, sentado ao meu lado no banco do passageiro, soltou uma risada baixa, como se entendesse que lidar com Samuel era uma tarefa que exigia paciência e um toque de humor.
Samuel, por sua vez, esticou a mãozinha e agarrou a ponta da minha camisa, com aquele olhar típico de quem quer estar junto a qualquer custo. Era o jeito dele de dizer que queria me acompanhar, mesmo sem palavras. Olhei para ele e sabia que, apesar de toda a sua frustração, ele só queria se sentir parte de algo.
— O que eu vou fazer é algo especial pra você e pro seu pai — expliquei com um sorriso, tentando ser o mais gentil possível. — Se vier comigo, vai acabar estragando a surpresa.
Ele inchou as bochechas, claramente descontente com minha resposta. As bochechas vermelhas, os olhinhos semicerrados, tudo indicava que ele estava resistindo à ideia.
— Eu não vou estragar nada! — disse Samuel, com sua expressão escurecendo. — Posso até fazer uma cara de surpresa depois! — Ele tentou, mas eu sabia que sua frustração não era só sobre a surpresa. Havia algo mais ali.
— Fiz uma promessa de cuidar de você e do tio Elio até que meu pai voltasse — ele acrescentou, com uma determinação que me deixou impressionado.
Inclinei a cabeça, tocado pela seriedade nas palavras dele. Aquela responsabilidade que ele sentia era tão desnecessária, mas ao mesmo tempo tão adorável. Ele queria proteger todos nós, mesmo sendo tão pequeno.
— Não precisa se preocupar — falei, tentando aliviar o peso que ele mesmo havia se imposto. — Eu vou estar muito bem protegido. Sei me cuidar e prometo que não vou demorar. Alguns minutos e estarei de volta, ok?
Percebendo que ele ainda estava hesitante, esfreguei sua cabecinha de leve, nosso jeito de criar um vínculo silencioso, algo só nosso. Ele suspirou, derrotado, mas ainda tentando manter uma postura firme.
— Está bem — disse ele, vencido, mas sem perder aquela teimosia característica.
— Eu já volto — prometi, inclinando-me para beijar sua testa. O gesto parecia acalmar um pouco seu espírito inquieto. — Pai, quer que traga algo para você?
Meu pai, que havia estado em silêncio observando a cena, balançou a cabeça enquanto ligava o rádio, permitindo que a música invadisse o espaço do carro, criando uma atmosfera mais leve.
— Não, apenas faça o que tem que fazer — ele disse, com aquele tom de voz que sempre me dava forças.
Saí do carro, sentindo o olhar de Samuel me seguir até que desapareci de vista. Sabia que ele não gostava de ficar para trás, mas algumas surpresas precisavam ser guardadas para o momento certo. E, naquele instante, percebi o quanto aquele garoto, com todo seu jeito teimoso e protetor, significava para mim.
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Sob os olhares excitados da multidão reunida na entrada do centro comercial, abri lentamente a porta do carro e saí. Vestido com um terno cinza bem cortado, sentia a energia no ar. Meu corpo era longo e magro, e a roupa parecia acentuar ainda mais minha postura. Eu sabia que minha presença ali chamava atenção, algo inevitável, mas não deixava de ser um pouco desconfortável.
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Espião Amoroso (MPreg) | Livro 1 - Família Alves
Roman d'amourConnor Wessex em um certo dia, depois de sair para resolver alguns assuntos da empresa do seu pai, conhece um garoto adorável e o salvou. Foi assim que se viu entrando na vida da família e construindo um relação de amizade com o pai do garoto e lent...