Bônus Três

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Vincenzo Alves:

A sala onde me encontro agora é tão longa que poderia facilmente ser comparada a um vagão Pullman antigo. Três candelabros pendem do teto, dois menores, delicados como os pingentes de um colar, e um maior no centro, imponente como se quisesse dominar a cena, mas sem conseguir ofuscar a extravagância do restante. A mobília é baixa, cheia de curvas graciosas que dão a impressão de que cada peça foi esculpida a partir de uma dança, congelada no tempo. Num canto, dois querubins, aparentemente perdidos em seu próprio teatro, seguram um espelho de corpo inteiro com expressão angelical, enquanto do outro lado, um velho relógio de piso parece desconfortável, quase envergonhado por estar ali, como se tivesse sido convidado para a festa errada.

O criado entra silenciosamente, equilibrando uma bandeja com a precisão de um malabarista treinado. Ele me entrega uma cerveja e, com um sorriso discreto, coloca na frente de Caio algo que parece um milk-shake de chocolate, grosso o suficiente para precisar de uma colher. Caio, por sua vez, parece decidido a consumir todas as calorias que puder antes de começarmos qualquer tipo de conversa séria. Ele se acomoda na única cadeira que permite esticar os pés, como se fosse um trono improvisado, e o faz com uma tranquilidade que só alguém ao meu lado teria a audácia de ter.

Sorrio internamente, imaginando que ele está aproveitando cada segundo dessa liberdade não dita, ciente de que, comigo ao lado, ele pode fazer o que quiser. Caio me olha de soslaio, como quem diz "Eu sei que estou abusando", mas nem se dá o trabalho de pedir desculpas, sabendo que, no fundo, eu não me importo. O contraste entre a elegância da sala e a descontração de Caio só torna o momento mais cômico.

Meu contato ergueu o copo de cerveja, os olhos cintilando com um misto de seriedade e entusiasmo.

— A nós. Que possamos fazer negócios que nos façam felizes e nos deixem satisfeitos.

Ergui meu copo e brindei com ele, enquanto Caio, com um sorriso despreocupado, tomava mais um gole do seu milk-shake de chocolate, como se estivéssemos em uma cafeteria comum, e não em uma sala cheia de negociações perigosas à nossa volta.

— Já sabemos que você tem plena consciência do que estamos interessados, mas ainda não confirmou. Está, podemos dizer, na fase exploratória — disse Caio, arqueando uma sobrancelha, com aquele tom de quem já sabe a resposta, mas quer ouvir a confirmação.

— Exatamente — respondeu meu contato, cruzando os braços.

— Bem, para fins de discussão, vamos fingir que você já está na equipe — continuou Caio, inclinando-se para a frente, como se estivesse se divertindo com o desenrolar da conversa. Ele fez uma pausa dramática, apreciando a tensão crescente no ar, antes de afundar novamente na cadeira e soltar, com a maior naturalidade: — Cara, que delícia. Esse milk-shake é perfeito para uma noite de missões.

Com uma tranquilidade absurda, ele enfiou a mão no bolso do casaco e puxou uma foto, oferecendo-a ao homem à nossa frente enquanto sugava o resto do milk-shake pelo canudo, sem tirar os olhos do contato.

— Dá uma olhada. É o cara que você vai rastrear agora mesmo nas ruas da cidade.

A foto era a mais recente que tínhamos de Durant, tirada das câmeras de segurança. Ele parecia ter evaporado do mundo desde aquele dia, como se fosse um fantasma, mas sabíamos que tinha um infiltrado na agência ajudando-o a construir seus equipamentos. Eu desejava que Pedro voltasse logo das férias para dar um jeito nas análises e relatórios das missões. Com ele fora, tudo demorava mais.

Meu contato ficou em silêncio por alguns segundos, vasculhando cada detalhe do rosto de Durant na foto. Seu olhar era sério, mas algo em sua expressão me dizia que ele estava considerando mais do que apenas a tarefa à sua frente.

Espião Amoroso (MPreg) | Livro 1 - Família AlvesOnde histórias criam vida. Descubra agora