“Esta leve tribulação não pode se comparar
Com o que está em Teu coração
Você disse: ‘no mundo tereis aflições’
Mas Você venceu por mim
E eu vencerei Contigo”
(Estranho, Sem Ninho, Ministério Zoe)23 de maio de 2020. Sábado.
Quando pisamos no chão amadeirado da minha casa, minha mãe deixou bem claro que eu iria colocar em dia os meus estudos da escola e para o ENEM na manhã do dia seguinte, sábado.
Eu já sabia que ela iria dizer aquilo. Mas pensar em estudar enquanto Tom estava dentro de uma UTI, passando por uma situação tão crítica e perigosa, me fazia arder em agonia. Como poderia estudar com ele roubando os meus pensamentos? Como poderia viver normalmente se ele estava correndo perigo de vida?
Além disso, ainda me preocupava com a estabilidade emocional dos pais dele e a de seu Demétrius.
Minha cabeça latejava com uma violência tremenda enquanto tentava focar em Física. Numa situação normal, eu ligaria para Tom e pediria que ele me ajudasse a entender Eletrodinâmica, porque ele era bom naquela matéria.
Na verdade, não havia matéria alguma em que Tom não fosse bom — tirando Educação Física, que ele dizia não fazer o seu tipo. Eu não conseguia imaginá-lo correndo por uma quadra, mesmo. Ele fazia o tipo nerd de filmes, tirando a parte de que esse estereótipo era sempre acompanhado de pouca beleza.
Balancei a cabeça. Tom precisava deixar os meus pensamentos.
Mas, por mais que eu me esforçasse, não conseguia assimilar o conceito de “resistores elétricos”.
Peguei meu celular e fui até o contato de Tom, que possuía um coraçãozinho ao lado do nome. Cliquei em sua foto. Ela era simples, que ele recortou de algum lugar — já que não era muito fotogênico. Apertava os lábios num sorriso, os olhos se enrugando um pouco e o óculos mais para baixo no nariz do que ele costumava deixar.
Fui até a galeria do celular, clicando no álbum que eu tinha separado para as minhas fotos com meu melhor amigo. Da mesma forma que o contato dele, o seu nome era “Tom♡”.
Tínhamos exatamente doze fotos, em mais de três anos de amizade. E em todas elas, ele estava sempre da mesma maneira: apertando os lábios. Nunca sorrindo de verdade.
— Tai?
Gael apareceu ao meu lado de súbito, fazendo eu perceber que estava chorando enquanto encarava a última foto que tirei com Tom.
Nela, ele e eu estávamos no cinema, no dia seis de março daquele ano, meu aniversário.
Meu pedido de presente de dezoito anos para Tom, foi me levar ao cinema para assistirmos ao romance de época mais esperado de toda a história dos romances de época: Nas Pupilas do Teu Coração.
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O Escritor da História • Livro 01 | Duologia "O Escritor"
Romance"Eu acredito que as promessas que Ele faz, Ele cumpre. Acredito que, mesmo que o Senhor me permita sofrer ainda mais, mesmo se esmagar e quebrar o meu coração, ainda assim estará lá para juntar os meus pedaços. Ainda que demore, acredito que um dia...