"Eu acredito que as promessas que Ele faz, Ele cumpre. Acredito que, mesmo que o Senhor me permita sofrer ainda mais, mesmo se esmagar e quebrar o meu coração, ainda assim estará lá para juntar os meus pedaços. Ainda que demore, acredito que um dia...
“Eu não quero viver sem você Eu não estou pronto para viver sem você Então, vamos dançar um pouco Rir um pouco Esperar um pouco mais Porque eu não quero viver sem você, sem você” (Without you, For King & Country feat. Courtney)
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15 de agosto de 2020. Sábado.
Solange estava pronta.
Doze longos dias haviam se passado desde que declarara em voz alta, pela primeira vez, querer perdoar Ricardo.
Como conhecedora da Palavra do Senhor, Solange se lembrava de todas as passagens em que Ele condena a falta de perdão. Não perdoar, segundo a Bíblia, é negar o perdão do próprio Senhor. É ser hipócrita, não ter amor e nem misericórdia; é negar a alguém aquilo que possibilita o relacionamento entre Deus e o homem.
Não perdoar — e essa era a pior parte — mostrava que Solange não amava ao próprio Deus. E isso a apavorava.
Então, na manhã de sábado, após conversar com o Senhor e pedir a Ele mais uma vez que a auxiliasse nessa tarefa, sentiu o Espírito Santo lhe dizendo: você está pronta!
Ela não se sentia pronta, mas não tinha forças para sequer pensar em desobedecê-Lo durante mais tempo.
Ansiosa e trêmula, passou a se arrumar para ir ter com Ricardo. Pensativa enquanto tinha seus músculos acalmados pela água quente que batia contra sua pele, percebeu como o Senhor havia preparado aquele sábado, especialmente para aquela missão.
O idoso de quem ela cuidava iria mais uma vez fazer exames em Ribeirão Preto. Ricardo, que havia conseguido um emprego temporário, não iria trabalhar naquele dia. Os dois se encontravam disponíveis para realizar aquilo que o Senhor queria — ou melhor, ela se encontrava disponível.
Encarando seus próprios olhos reproduzidos pelo espelho à sua frente, menos inchados que nos dias anteriores, Solange refletiu em quanto seu rancor deveria ter afetado Ricardo. Lembrou-se daquele sábado na praça, em que o ouviu chamá-la de “meu amor", com a dor impressa nos olhos claros. Como pôde ignorar a angústia dele por tanto tempo?
Ele errou, sim; mas ela sentia arrepios ao pensar que estivera fazendo o papel do acusador, Satanás, e não o da irmã em Cristo que deveria estar sendo para o ex-marido.
A palavra pairou sobre sua mente. Ex-marido.
Sentiu os pelos dos seus braços se eriçarem enquanto passava um hidratante pelo corpo.
O que ela iria dizer?
Decidiu não passar nada no rosto. Se chorasse, não queria ficar com os olhos pretos ou o rosto marcado. Solange escovou os cabelos e os secou, deixando-os cair, ondulantes, sobre seus ombros. Colocou um par de brincos de pedrinhas brilhantes nas orelhas, e pensou se deveria usar um relógio ou não — e decidiu que não. Vestiu uma sandália nude de tiras, que combinava com o vestido branco que recaía sobre seu corpo. Pensou se o comprimento logo no joelho estava bom — ela já não estava velhapara usar vestidos nos joelhos?
