“Haja mais amor, a começar em mim
Amor que eu tanto quero ver
A começar em mim
A começar em mim
Quem me perceber
Que antes possa me reconhecer
Me descrever em Teu amor”
(A Começar em Mim, Vocal Livre)Doutora Ísis me levou até seu escritório, no terceiro andar do hospital.
Tomei bastante tempo dela. Ela se sentou no chão ao meu lado, com as costas encostadas na parede, enquanto eu falava. Contei como me sentia desde o jeito com que Tom me escondia as coisas, até em relação às minhas novas descobertas.
Aquela guerra não era minha. A dor de seu Ricardo e dona Solange pelo filho e as palavras da mulher para o ex-marido — visivelmente ferida e rancorosa — não eram minhas. Mas eu sentia como se fizesse parte daquilo.
Havia me inserido entre os dois por causa de Tom, mas não poderia simplesmente ignorar os visíveis atritos que eles causavam sempre que se aproximavam. Seu Ricardo estava sofrendo com sua culpa e as palavras da ex-esposa, e dona Solange sofria com o rancor que dirigia ao ex-marido, e com o medo de perder o filho.
Eu não fazia ideia do que fazer para que as tempestades deles se acalmassem.
Expus meu sentimento de impotência à doutora Ísis. Até pensei que eu estava falando com, praticamente, uma desconhecida; mas a médica me passava uma confiança incrível.
Ao final do meu relato, ela respirou fundo.
— Entendo você, de uma maneira diferente — disse. — É assim que me sinto quando não há nada que eu possa fazer por um paciente.
— E o que a senhora faz? — perguntei, enxugando as lágrimas.
— Eu oro. — Ela sorriu para mim. — Oro pedindo direção ao Senhor. Às vezes, não há nada que eu possa fazer, mesmo. Mas há algo que posso dizer. Às vezes, posso ajudar o emocional das pessoas antes delas partirem.
— Eu não sei se consigo fazer isso, doutora Ísis — falei, esmorecendo. — Eu não tenho o que falar para eles. Seu Ricardo e dona Solange já foram casados, tiveram um filho e ele está doente agora. Eu sou adolescente, estudo e faço coisas de adolescente! — Me exasperei. — Como posso ajudar alguém que vive uma realidade diferente da minha? Eu iria apenas... especular sobre a dor deles.
— Você se esqueceu da primeira coisa que eu disse. — Doutora Ísis me cutucou de leve com o ombro. — Eu oro, Tai.
Ficamos alguns segundos em silêncio, eu digerindo as palavras da médica.
— Não tenho filhos, então como posso entender uma mãe que vai perder o seu? — perguntou ela. — Orando, pois o próprio Pai perdeu Seu Filho por um momento, e pode me ajudar a compreender essa mãe. Como posso entender um viciado, se não tenho casos de vícios em minha família? Recorrendo Àquele que vê e presencia a vida de todos os viciados. Como posso ajudar alguém não tem esperança nenhuma? Mostrando a esperança que vem dEle. — Ela se virou um pouco para mim.
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O Escritor da História • Livro 01 | Duologia "O Escritor"
Romance"Eu acredito que as promessas que Ele faz, Ele cumpre. Acredito que, mesmo que o Senhor me permita sofrer ainda mais, mesmo se esmagar e quebrar o meu coração, ainda assim estará lá para juntar os meus pedaços. Ainda que demore, acredito que um dia...