⊱⋅ Capítulo Trinta ⋅⊰

457 90 246
                                    

“Viver Teu chamado, deixar minha história
Ser carta de Deus para o homem perdido
Negar o meu eu, romper com os conflitos
Vou buscar Teu reino, Tua voz não resisto
Aceito Teu chamado”

(Aceito O Teu Chamado, Bruna Karla)

(Aceito O Teu Chamado, Bruna Karla)

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

19 de junho de 2020. Sexta-feira.

Acordei com um sentimento ruim latejando no peito. Faltavam apenas três dias para completar um mês que Tom havia entrado em coma.

Como isso era possível? Um mês era uma parte entre doze num ano, quatro semanas, trinta dias — às vezes, 31 —, mais de 720 horas.

Ele não havia tido nenhuma melhora, e permanecia entubado. Não havia como saber se tivera danos neurológicos permanentes, mas o fato de não ter aparecido coágulos novamente, era algo a que se apegar.

No entanto, o que mais abalou a todos nós foi o conteúdo da conversa que doutor Novaes precisou ter conosco.

Já era tarde, e eu estava me preparando para sair do hospital. Meus pais queriam que estivesse em casa às cinco horas, para que não fosse embora à noite. Seu Ricardo havia acabado de chegar da montadora, tendo saído mais cedo para ver Tom ainda no horário de visitas. Quando o vi entrar pela portas da praça de alimentação acompanhado do doutor Novaes, constatei que não estava bem.

Eu estava aprendendo a compreender seu Ricardo. Dava para distinguir quando sua seriedade era aquela de sempre, da de quando tinha alguma angústia afligindo seu interior — assemelhava-se ao filho em mais um quesito.

Senti um leve frio no estômago quando esse pensamento me levou à primeira carta de Tom. Balancei a cabeça, como se o movimento fosse ajudar a mandá-la embora da minha mente.

— Com licença, senhora Amaranto. — O doutor Novaes se aproximou e olhou para dona Solange, voltando-se à mim em seguida. — E senhorita Gonçalves. — Ele sorriu, mas notei que aquele era o seu sorriso “precisamos ter uma conversa séria".

— O que houve? — Já fui perguntando, passeando os olhos pelos dois homens.

Os cabelos de seu Ricardo, que no jantar estiveram definidos e arrumados, jaziam jogados em sua cabeça.

— Precisamos falar sobre uma coisa. — Meu peito apertou com o tom de voz usado pelo médico.

— Pode falar, doutor. — Dona Solange permitiu, juntando as mãos abaixo da mesa.

— O coma de Thomas completa um mês no dia 22, como bem sabem — começou ele, cuidadoso. — Infelizmente, preciso lhes informar acerca de uma política aqui do hospital. — Ele abriu o papel que segurava, e leu: — “Se o paciente em questão não apresentar nenhuma melhora, ou piora, deverá ser transferido para um quarto, onde receberá todos os cuidados devidos, que não caberão mais à UTI.” — Ele olhou para o pai de Tom ao seu lado, e respirou fundo. — Thomas precisará ir para um quarto no dia 22. Não posso esconder que esperávamos tê-lo de volta ainda nesse primeiro mês, mas ele não correspondeu à essa expectativa. Nesse tempo fizemos uma segunda cirurgia, como sabem, mas ela não altera a política do hospital. Como dito na cláusula, ele continuará a ter os mesmos cuidados que precisa, só que no quarto. George e Vivian estarão de olho nele a todo momento, e garanto a vocês que também estarei sempre por perto.

O Escritor da História • Livro 01 | Duologia "O Escritor"Onde histórias criam vida. Descubra agora