O homem do alto

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O fio da lâmina pairou pelo ar de forma rápida, cortando o espaço entre ele e a epiderme do homem caído como um raio. A adaga tocou a pele, mas bruscamente foi forçada a se reerguer. Os dedos magros e compridos se agarraram ao pulso da mão que segurava a arma, afastando-a repentinamente. 

— O que pensa que está fazendo? Por que me parou? — questionou a mulher de fios azulados, puxando seu braço de volta. 

— Você só teria gastado sua adaga com ele — comentou, seus dedos apontando para uma parte do braço do homem caído, onde pequenos cortes quase imperceptíveis estavam. — Vê isso? É só um palpite, mas embaixo de toda a pele dele tem uma camada metálica e parece bem resistente. 

A mulher bufou baixo e se aproximou, enfiando a ponta da adaga em um dos cortes, puxando a epiderme para o lado e notando que o outro tinha razão, havia uma camada prateada e reluzente bem ali. 

— E o que fazemos agora? Não há como perfurar o corpo dele desse jeito... 

— Em algum lugar dele deve ter algum ponto desprotegido... Os do alto podem ter muitas tecnologias, mas os corpos deles são iguais aos nossos... Lugares em que não dá para colocar uma placa metálica... 

— Me mostre onde é. 

— Pense nesse revestimento interno como uma armadura... Tem partes que ficam desprotegidas. 

— Odeio quando me faz pensar — murmurou, a adaga girando em sua mão. — Prefiro cravar minha arma na jugular e acabar logo com isso para voltarmos ao que faziamos. 

— Sua preguiça em pensar me impressiona. — O moreno falou em um tom debochado, seus dedos se direcionando para o braço do outro, pressionando a região do ligamento, apalpando a pele. — Como deduzi, as áreas de ligamento das articulações não têm...

Seu corpo foi bruscamente jogado para o lado, o som dolorido do encontro de suas costas contra os materias o fez arfar. Seus olhos se voltaram para o alto, notando que a figura que estava caída agora estava sobre si. As mãos fortes pressionando seus pulsos, seus joelhos apoiados nas coxas alheias, forçando-as a não se mover. 

— Me solta, agora — ordenou Matteo, seu corpo se remexendo de forma violenta e brusca, tentando se livrar do aperto do outro. Seus olhos faiscaram de irritação, encarando o rosto alheio com toda sua raiva. 

— Quem é você? — perguntou o que caíra do alto, seu olhar apático deslizava pelo local e pelo moreno abaixo de si. 

— Como se eu fosse te responder, oh do alto. Vocês não merecem ouvir nem o nosso nome. 

Matteo sentiu o aperto em seu pulso da mão boa se afrouxar, assim como o movimento rápido das pernas alheias sobre si. Por instantes tentou analisar os motivos para aquilo e percebeu que Eva havia se movido, a adaga em suas mãos descia furiosa para se cravar na parte atrás dos joelhos. 

— Não. Se afaste — falou, ou melhor, gritou para a mulher, entretanto era tarde demais. A perna do homem girara e atingira a arma, lançando-a para longe e a fazendo deslizar pelo chão imundo, se perdendo no meio dos destroços. 

A de madeixas azuladas ficou estática por milésimos de segundo, sua mente tentando processar o que acontecera ali. Em seguida se afastou com um pulo, suas mãos buscando a segunda adaga que levava por precaução. 

— Está procurando por isso? — A voz calma e que beirava a serenidade perguntou, a segunda adaga brilhando em sua mão, enquanto a outra ainda segurava Matteo contra os destroços. Sua perna voltando a pressioná-lo contra os restos.

— Como você sabia que havia mais uma? — questionou a mulher, seu olhar que sempre estava envolto em tédio agora se mesclava com uma evidente surpresa a qual tentava suprimir. 

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