Depois da saída de Gael de seu quarto, Matteo permaneceu imóvel por longos segundos, processando o que havia feito nos minutos anteriores, suas mãos esfregando seu rosto em irritação.
Naquele momento ter começado tudo aquilo parecia um erro. Onde estava com a cabeça quando acatou a ideia de mostrá-lo como fez? Gael era tão ingênuo nesse aspecto e nem ao menos sentia todos os seus toques, era como tentar algo com um robô ou um objeto... Apesar de saber que no fundo não era a mesma coisa, Gael ainda era humano no fim das contas.
Esse não era o único ponto que o incomodava. Claro, ter visto que não havia emoção no olhar alheio tinha sido um gatilho e o estopim para perceber o erro que cometera.
Mas também lhe afetava o fato de que Gael não entenderia todos sentimentos que envolviam aquele momento, não diminuiria a sensação de queimação em seu estômago ou as batidas fortes de seu coração. E tais sentimentos lhe pareciam um obstáculo a qual não queria ver.
— Merda, Matteo, o que foi que você fez? — resmungou para si mesmo, seu braço bom repousando em frente aos olhos, seus dentes trincando em irritação. — O que eu faria depois? Eu realmente teria... Levado até o fim?
O moreno rolou na cama frustrado, sentindo seu corpo quente esfriar levemente e sua mão se fechar com firmeza.
Teria ficado satisfeito com aquilo? Em ter a certeza de que todo aquele momento não era recíproco? Em ter a certeza de que Gael não era ele, não tinha suas emoções presentes, não tinha a intensidade sentimental?
O interior do moreno estava um caos, uma mistura de memórias e dúvidas, de sentimentos contraditórios e pensamentos confusos. E Matteo tinha clara ideia de que era o único naquele estado.
"Você vê que quando fazemos com alguém que amamos, com os outros perde a graça? Gosto de te ter assim, Matteo, como você é, despido de qualquer roupa e de codinomes. Só você desse seu jeito que para sempre vai ser único para mim."
— Por que estou me lembrando disso agora? — falou, suas mãos pressionando o rosto.
O moreno se levantou e seguiu para a pia, jogando a água fria em seu rosto, deixando as gotas escorrerem por seu pescoço e tronco. Sua respiração estava agitada assim como sua mente.
Ele também era único para Matteo, para Kitsune. Mas Gael também o era? Teria sido diferente se tivessem feito? Teria se despido de tudo por ele? Teria insistido mais uma vez em tentar amar alguém?
Matteo andou até a porta, segurando a maçaneta e a abrindo pouco depois, sua mente estava uma confusão, sem saber o que estava certo ou errado naquilo tudo. Não parecia tão aceitável para si que fizesse algo com Gael enquanto ele não soubesse o que significava se entregar, não soubesse que para si as coisas não eram tão simples.
Sua concepção sobre sexo não era linear, mas havia duas coisas que para ele levavam a: necessidade e amor. O último de fato estava restritito a Matteo, fazia parte de quem ele era, já o primeiro pertencia a parcela de quem queria ser, de Kitsune.
Entretanto, ligar amor e sexo em definitivo não fora uma decisão sua, não completamente, antes de conhecê-lo havia apenas a necessidade e foi só depois de encontrá-lo que soube que preferia daquele jeito e deixara a necessidade física somente a Kitsune.
Mas com Gael era diferente. Havia lhe confiado seu nome, havia entregado quem era de verdade e levar aquele ato a diante seria como retirar a confiança que depositou, mostrar outro alguém que não fosse Matteo.
Quando estavam a sós não haviam codinomes.
Seus passos pouco a pouco se encaminharam para o lado de fora do prédio. Precisava espairecer ao menos um pouco e tentar colocar seus pensamentos e sentimentos em ordem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
inafetivo
Science FictionNaquele mundo em que sobreviver era a lei, os afetos são esquecidos e abandonados desde o berço. Amar se torna um peso, algo difícil de se carregar, uma cruz a qual poucos conseguem lidar. A guerra, a morte e a violência se encontram em cada esquin...