Até que ponto

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Os óculos arredondados recobriam os olhos amarelados enquanto faíscas avermelhadas saiam do metal quando a lixa afiada raspava contra a lataria. A raposa havia se dedicado naquilo por boa parte da manhã: encontrar peças pela sala de bugigas e locais próximos para tentar construir uma máquina de ressonância magnética. 

Estaria completamente tranquilo fazendo o seu trabalho se não fosse pela não requerida presença de Íris ali. Por algum motivo, a mulher de cabelos rosados decidiu por si só que seria supervisora do projeto, mesmo que sua especialidade não fosse em nenhuma construção mecânica ou elétrica. 

Mas esse não era o problema principal. Havia o ponto em que percebeu que suas habilidades com soldas, furadeiras, lixas e outros aparelhos beiravam a zero e a mulher insistia que iria participar do processo. 

E claro que Matteo queria arranjar qualquer outra coisa que ela pudesse fazer para não o atrapalhá-lo, entretanto, sua mente parecia incapaz de pensar em qualquer outra atividade útil para ela. 

— Como chama essa aqui? — perguntou enquanto pressionava o botão para ligar e fazendo a ferramenta afiada na ponta girar, sua mão a balançando no ar. 

— Desliga isso, vai se machucar — avisou Matteo, tentando a todo custo retirar o equipamento das mãos alheias. — E isso é uma micro retifica. 

— 'Pra que serve, raposinha? — A rosada segurou a máquina com as duas mãos como se fosse uma arma. — Se ela atirasse a ponta assim daria uma boa arma. 

— Serve para alinhar ou corrigir uma peça, agora pode desligar antes que se machuque e me dê mais trabalho? 

— Chato — reclamou apertando o botão e deixando a ferramenta de lado, logo se interessando pelas outras coisas na sala. 

Matteo deixou que a mulher vasculhasse pelo local, enquanto se atinha em seguir o protótipo que havia traçado depois de muitas pesquisas e cálculos. Ao menos se estivesse interessada nos objetos imóveis e que não ligassem, os quais estavam perto de si, não corria tanto perigo assim. 

Matteo voltou a se afundar no que fazia, atentando-se aos pequenos detalhes para que não precisasse refazê-los. 

— Você sabe usá-las? — Foi a pergunta que ouviu antes de erguer o olhar confuso para onde a menor estava, notando que as duas espadas, as quais deixara com Gael, estavam em suas mãos. 

— Não o suficiente para o combate... Usar um Daisho requer muita habilidade e desenvoltura — afirmou o maior, deixando os equipamentos e peças repousarem sobre a mesa.

— Daisho é o nome dessas espadas? 

— É como se chama o conjunto de uma katana e uma wakizashi. — Matteo apontou para a espada mais longa e em seguida para a mais curta. — Talvez precise afiar o fio delas... 

— Wakizashi? É um nome bonito de pronunciar — comentou tirando a espada citada da bainha e segurando com uma das mãos. — Sabe o suficiente para me ensinar? 

Matteo suspirou baixo e deixou de vez o projeto da máquina de ressonância de lado, retirando os óculos de proteção, se aproximando de onde Íris estava e desembainhando a katana. 

— Fique em posição de ataque. Me mostre como faria — pediu a raposa, suas mãos segurando o cabo da espada e sua posição mudando levemente, tornando-se um pouco mais séria. 

A rosada o imitou, colocando uma mão sobre a outra e avançando com a espada, a qual foi bloqueada, logo tornou a golpear, mudando a inclinação da lâmina e Matteo girou a que estava em suas mãos para aparar o golpe. 

— Você tem uma boa noção de onde atacar... Mude a posição de suas mãos, nunca as deixe sobrepostas, isso vai limitar seu movimento — pontuou o moreno e a rosada o fez. — Fique de frente para seu alvo. Agora venha de novo. 

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